Título: O novo desafio do Banco Central
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2008, Economia, p. B2

É evidente que o Comitê de Política Monetária (Copom) usou o aumento de 0,50 ponto de porcentagem na taxa Selic mais com finalidade psicológica, para tentar afastar o risco de uma explosão da inflação.Todavia, como a pressão inflacionária tem hoje sua origem principal em fatores externos, um único aumento da Selic não terá efeito sensível sobre a inflação futura.

Parece existir um consenso no mercado de que a decisão do dia 16 de abril será seguida de outras de mesma direção, embora esse processo não se deva alongar muito além do final do ano. O Banco Central (BC) tem a tarefa delicada de procurar convencer os agentes econômicos de que não se trata do início de um processo de ajuste que se poderá prolongar em 2009.

É fácil constatar que as autoridades monetárias, já na penúltima reunião do Copom e por meio do último Relatório de Inflação, tinham dado indicação de que elevariam a taxa Selic na reunião de 16 de abril. Foi o suficiente para que as instituições financeiras aumentassem suas taxas de juros, que também tiveram forte alta no mercado futuro. De modo que, já antes de 16 de abril, para conseguir colocar seus papéis da dívida mobiliária, o Tesouro teve de oferecer maior remuneração. Isso permitiu às autoridades dizerem, agora, que o efeito da decisão de 16 de abril sobre o custo do dinheiro não foi anormal, pelo simples fato de que esse efeito já tinha sido antecipado.

Pode-se ver que - sem uma franca explicação das autoridades sobre a finalidade da elevação da Selic, sobre a duração desse processo de ajuste e sobre a intenção de evitar uma explosão futura da inflação, mais do que uma rápida redução das pressões inflacionárias - o clima financeiro se pode deteriorar além das previsões.

É preciso evitar que as instituições financeiras voltem a antecipar reajustes da Selic, ampliando, assim, os efeitos perniciosos sobre a economia de medidas para conter a inflação. Mesmo reconhecendo que as autoridades monetárias não podem assumir compromissos sobre a condução da sua política, o BC, num diálogo que sempre existiu, poderá evitar abusos por parte dos bancos.

Isso também permite evitar uma alta descabida de juros na colocação dos títulos da dívida mobiliária. Caso contrário, o Copom terá grandes dificuldades em conter uma inflação antecipada pelo mercado financeiro.

Nota: em nosso comentário de ontem onde se lê 50 pontos de porcentagem se deve ler 0,50 ponto de porcentagem.