Título: Entrada da GP no leite barra compra de laticínio pela Parmalat
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2008, Negócios, p. B19

Montelac desiste de negociar com Parmalat depois de ver a GP pagar R$ 308 milhões por laticínio em Goiás

No dia seguinte ao anúncio da venda da Leitbom para a GP por R$ 308 milhões, os quatro sócios da mineira Montelac Alimentos se reuniram e decidiram interromper as negociações com a Parmalat. A razão é que eles queriam mais pela venda, avaliada em R$ 100 milhões. Imediatamente, foram até a sede da Parmalat, em São Paulo, para informar a decisão. Ontem a Parmalat divulgou fato relevante dizendo que vai processar a Montelac por quebra de contrato.

A companhia ajuizou ação contra o laticínio e seus acionistas alegando rescisão do memorando de entendimentos firmado entre as duas empresas no dia 27 de março. O acordo previa uma cláusula de exclusividade que impediria qualquer negociação da Montelac com outras empresas.

No mercado, há rumores de que a Montelac desistiu da venda porque haveria outro comprador interessado em pagar mais. A Perdigão é apontada como um dos possíveis compradores. A Perdigão nega. Um dos sócios da Montelac, José Eustáquio Sena, dá outra explicação para a mudança repentina de idéia: ¿a empresa pode valer muito mais. A compra da Leitbom pela GP teve um impacto imediato na nossa decisão.¿

FORA DE HORA

Criada há menos de oito anos por ex-executivos de laticínios, a Montelac já fatura R$ 300 milhões e tem uma participação relevante no mercado de leite longa vida, principalmente em Minas Gerais, onde é líder de mercado. Seus ativos, segundo empresários do setor, são equivalentes aos da Leitbom. Ela tem duas fábricas relativamente novas e uma torre de secagem de leite inaugurada recentemente.

Sena, mais conhecido como Nenê, diz que já conversou superficialmente com a Perdigão, mas nega que haja alguma negociação em curso. Segundo ele, o momento não é adequado. ¿Por precaução, optamos por não fazer. Vamos aguardar no mínimo quatro meses para voltar a negociar¿, diz. Segundo ele, em maio vai haver uma mudança tributária em Minas Gerais que vai tornar a Montelac mais competitiva. ¿O Estado vai ser privilegiado e nós vamos nos beneficiar.¿ Nenê diz que já depositou o valor da multa por rescisão de contrato.

Como a Montelac é uma empresa profissionalizada, o que é raro no setor, e que cresceu muito em pouco tempo, ela se torna um alvo natural para aquisições, acreditam fontes do setor. ¿A onda de fusões e aquisições valoriza a empresa¿, diz uma fonte. ¿A Montelac é uma empresa bem posicionada geograficamente, está perto de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, três dos principais mercados consumidores do Brasil.¿

O episódio é revelador da reviravolta que está mudando a cara indústria do leite, até então considerada o patinho feio do agronegócio. Só no mês de abril já foram feitas quatro aquisições. A Perdigão levou a mineira Cotochés no mesmo dia em que a gaúcha Bom Gosto anunciou a compra da Santa Rita, também de Minas Gerais. Dias depois, a Parmalat adquiriu a Poços de Caldas e a marca Paulista, ambas da Danone. No começo da semana, a GP comprou a Leitbom, de Goiás. O laticínio goiano foi disputado a unha pela Nilza Alimentos.

O movimento de consolidação só está no começo. A GP não entrou em campo para ficar restrita apenas à Leitbom, acreditam os empresários do setor. Ela deve continuar comprando outros laticínios para formar um grande grupo que faça frente a empresas como Perdigão e Nestlé.

O frigorífico Bertin, que no ano passado comprou a Vigor, é outro grupo ambicioso. O mesmo se pode dizer da Perdigão, que em pouco tempo chegou ao segundo posto do ranking do setor, atrás apenas da Nestlé. A AIG Capital também está de olho nos laticínios. A Bom Gosto, do Rio Grande do Sul, e a Nilza Alimentos, do empresário Adhemar de Barros Neto (ex-dono da Lacta) também estão indo às compras.