Título: Crise nos EUA reduz envio de remessas de imigrantes mexicanos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2008, Internacional, p. A10

Queda na transferência de dólares provoca aumento da pobreza extrema no México

Manuel Roig-Franzia, The Washington Post, Lo de Luna, México

Os impactos da crise das hipotecas e da queda na atividade econômica dos Estados Unidos tiveram um efeito cascata no México, provocando uma súbita e abrupta diminuição no dinheiro enviado para casa pelos imigrantes mexicanos, o que ressalta a dependência deste país do vizinho do Norte.

Em janeiro, as remessas caíram quase 7% em relação ao mesmo período do ano passado, a maior baixa mensal em 13 anos. Os economistas acreditam que o declínio nas remessas já está empurrando milhares de pessoas para a pobreza extrema e poderá levar a um aumento significativo na emigração - já que os mexicanos desesperados, privados do apoio vindo do exterior, vão fugir para o mercado de trabalho dos EUA, que nunca esteve tão difícil. ¿As oportunidades de trabalho aqui são não-existentes, portanto isso vai causar mais emigração para os EUA, mesmo que esteja ficando mais difícil arranjar emprego lá¿, disse Juan Manuel Padilla, demógrafo da Faculdade de Economia da Universidade de Zacatecas.

A baixa nas remessas está adquirindo as proporções de uma catástrofe no Estado de Zacatecas, que tem o mais alto índice de emigração do México. Os mais atingidos são os pequenos vilarejos que foram virtualmente abandonados por todos seus habitantes, com exceção dos pais idosos dos emigrantes. No vilarejo de Lo de Luna, idosos como Ernesto Hernandez ficaram quase na miséria. Hernandez, que tem 80 anos, não toma mais seu remédio contra a diabetes. Como seu custo é muito alto, ele prefere comprar comida do que o remédio.

Desde que o filho dele, Alfonso, perdeu sua casa nos EUA, porque sua hipoteca foi executada judicialmente há poucos meses, e parou de enviar dinheiro, a vida do pai tornou-se ¿um total desastre¿, disse Hernandez.

Alavancadas pelo crescimento da imigração e pelos custos baixos da transferência de dinheiro, as remessas para o México atingiram seu ápice em 2007, chegando a quase US$ 24 bilhões - mais de cinco vezes a quantia enviada há uma década. Recentemente, os envios de dinheiro tinham ultrapassado o turismo, tornando-se a segunda maior fonte de divisas do México, perdendo apenas para as exportações de petróleo.

O dinheiro transformou a paisagem de muitas cidades, pagando por novas casas, carros e creches, assistência médica e roupas. Mas alguns economistas também dizem que as somas gigantescas enviadas para o México criaram uma sensação de complacência, especialmente entre as autoridades governamentais, que fracassaram em endireitar a cambaleante economia do país.

¿É uma demonstração de que existe uma dependência crescente das remessas financeiras e uma grande vulnerabilidade do país¿, disse Rodolfo Garcia Zamora, professor de Economia da Universidade de Zacatecas e um das principais autoridades do México em remessas. ¿Nem o governo nem as famílias afetadas têm uma boa alternativa às remessas em dinheiro.¿

De acordo com estimativas do governo mexicano, cerca de 400 mil a 650 mil mexicanos - três quartos deles sem documentação - cruzam a fronteira todos os anos em busca de trabalho nos EUA. Muitos dos que emigram compram moradias no México, esperando se aposentar no seu país natal. Mas há crescentes evidências de que problemas econômicos estão obrigando muitos desses emigrantes a vender suas moradias no México porque perderam o emprego ou sua casa nos EUA para a Justiça. Cerca de 149 propriedades do distrito histórico de Jerez de Garcia Salinas, uma cidadezinha do Estado de Zacatecas, foram postas à venda a preços de liqüidação nos últimos meses, disse Encarnación Bunuelos, uma empresária e consultora do governo municipal. ¿Os proprietários, na sua maioria imigrantes, permanecerão nos EUA e nunca mais voltarão¿, disse ela.

Links Patrocinados