Título: Ministro muda na Argentina, mas a política é a mesma
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2008, Economia, p. B13

Néstor Kirchner mostra a sua força no governo de Cristina e afirma que ninguém vai esfriar a economia

BUENOS AIRES

Na sexta-feira de manhã, duas frases pronunciadas pelo novo ministro da Economia, Carlos Fernández, inquietaram economistas, lideranças da oposição e os mercados. Primeiro, disse: ¿Estou preocupado com a economia do país¿. E na seqüência, afirmou: ¿Não vou mudar nada da política econômica¿.

Na véspera, o ex-presidente Néstor Kirchner - cada vez mais presente no governo de sua esposa, a presidente Cristina Kirchner - havia esbravejado em um comício na cidade de Ezeiza com dedo em riste: ¿Algumas pessoas querem esfriar a economia para que os argentinos não consumam. Mas ninguém vai esfriar nossa economia!¿

Na sexta-feira à noite, poucos minutos antes da posse de Fernández, Kirchner - em mais um comício, desta vez em Mendoza - voltou a dar diretrizes na política econômica, indicando que o conflito que o governo mantém com o setor agropecuário (que por tabela está deixando o Brasil sem o trigo argentino) continuará por longo tempo.

Além disso, o ex-presidente ressaltou que, para manter baixos os preços dos alimentos para o mercado interno, as restrições para as vendas ao exterior vão permanecer por tempo indeterminado. ¿Primeiro devem comer os argentinos. Só depois, os agricultores podem exportar.¿

A mudança de ministros, afirmam na city financeira portenha, teve o efeito de radicalizar o governo Cristina em suas principais linhas da política econômica.

A presidente do Banco de La Nación, Mercedes Marcó del Pont (amiga de Cristina e eterna candidata ao Ministério da Economia), sustentou que ¿as linhas básicas estão apoiadas na sustentação do crescimento econômico, no mercado interno, em manter um tipo de câmbio competitivo e nas obras públicas como protagonistas fundamentais da atividade econômica.¿

No Parlamento, o respaldo a estas linhas continuará, segundo indicou o homem dos Kirchners na Câmara de Deputados, Carlos Kunkel. ¿Não vamos mudar nosso compromisso com a cidadania.¿ O senador Miguel Ángel Pichetto confirmou: ¿O governo não vai propiciar qualquer tipo de recessão¿. O pesquisador político Gustavo Martínez Pandiani avaliou que a atitude do governo pode gerar revoltas. ¿O ar tem cheiro de confronto e o governo decidiu redobrar a aposta.¿

COMANDANTE

Neste fim de semana, os analistas destacaram que cada vez é mais claro que o verdadeiro poder na Casa Rosada é o ex-presidente Kirchner, e não sua esposa Cristina. Eles também ressaltam que as principais diretrizes da política econômica são ordenadas por Kirchner.

A queda de Martín Lousteau do ministério da economia amplificou o poder da linha obediente do governo, na qual nenhum integrante ousa divergir de Kirchner. Esta linha é representada pelo poderoso ministro do Planejamento e Obras, Julio de Vido, e o Secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.

Moreno é o homem encarregado de pressionar empresários para forçá-los a manter a estabilidade de preços, especialmente os de consumo popular.

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