Título: Grampo indica que vice do PDT receberia de esquema do BNDES
Autor: Pereira, Rodrigo; Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Nacional, p. A4

Em duas conversas, quatro acusados que tiveram prisão temporária decretada mencionam a `parte do Gaspar¿

O relatório da Operação Santa Tereza, deflagrada contra suposto esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), aponta mais dois nomes de políticos ligados ao PDT - José Gaspar Ferraz de Campos, vice-presidente estadual do partido, e Farid Madi, prefeito do Guarujá.

Grampos da Polícia Federal, que compõem o inquérito BNDES, indicam que Gaspar teria sido beneficiário da divisão de dinheiro de contratos fraudulentos. Em duas conversas distintas, 4 das 11 pessoas que tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça mencionam ¿a parte do Gaspar¿.

No dia 23 de janeiro, o foragido Manuel Fernandes de Barros Filho, o Maneco, dono da construtora Fernandes & Bastos e sócio do prostíbulo W.E., fala por mais de meia hora com o empresário Boris Bitelman Timoner sobre o empréstimo de R$ 126 milhões aprovado no BNDES para a Prefeitura de Praia Grande. A liberação do dinheiro garantiria ao grupo R$ 4 milhões - depois o repasse foi reduzido para R$ 2,6 milhões. Na partilha inicial, R$ 1 milhão, segundo os policiais depreenderam da conversa, seria para o ¿custo político¿ do esquema - o prefeito Alberto Mourão (PSDB) e ¿alguém do BNDES¿.

Maneco ficaria com R$ 400 mil, só para ¿cobrir custos¿ do golpe. ¿De dois milhões e seiscentos, um milhão e trezentos seriam divididos por (Marcos Vieira) Mantovani, entre ele próprio, `Paulinho¿ (possivelmente o deputado Paulo Pereira da Silva, segundo a PF), Ricardo Tosto e `José Gaspar¿¿, registra o relatório.

O construtor ainda ficaria com mais uma fatia do R$ 1,3 milhão restante - montante que seria repartido com Timoner, o assessor de gabinete do prefeito Mourão, Jamil Issa Filho, e o ex-conselheiro do BNDES e ex-assessor do deputado Paulinho da Força João Pedro de Moura.

No dia 11 de fevereiro o nome de Gaspar é citado em outra escuta, de Mantovani e João Pedro. Mantovani diz ¿que já recebeu a sua parte da propina referente ao esquema da Praia Grande¿. Conta que separou a parte do ¿RT e PA¿, que a PF aponta como sendo Tosto e Paulinho. ¿João Pedro diz que tem que conversar sobre a parte do Gaspar¿, afirma o relatório.

Outro pedetista, o prefeito do Guarujá, Farid Madi, também é citado. Issam Osman, filho de uma prima do prefeito, é apontado como ¿assessor informal¿ por obter ¿concessão de obras da prefeitura, obviamente sem licitação¿. Ele aparece no grampo de Maneco, cuja construtora conseguira duas obras no Guarujá. Nos áudios negociam no dia 13 de dezembro um projeto para a construção de um hospital, e Maneco ¿reclama que 2% não dá¿ - o valor do desvio, segundo a PF.

As conversas prosseguem até 7 de abril, quando os dois falam sobre a liberação de verbas e Issam confirma que ¿liberou¿.

A PF pediu buscas no Guarujá e afirmou que ¿serão instaurados inquéritos próprios, observando-se a prerrogativa de foro¿ contra os prefeitos do Guarujá e de Praia Grande.

DEFESA

Procurado no PDT, Gaspar não foi encontrado. Em nota, a Prefeitura do Guarujá disse que ¿não mantém vínculo nem relação comercial com essa pessoa (Osman)¿ e que ele ¿pode estar se valendo do parentesco distante com o prefeito para tentar fazer negociações à revelia da prefeitura¿. Diz que a cidade ¿nunca pleiteou recursos no BNDES¿ e que o único hospital em construção ¿está quase pronto e foi erguido com recursos municipais¿.

Paulinho, Tosto e Mourão têm negado participação no esquema. Mantovani e Timoner preferiram não se manifestar. A defesa de Issa Filho, que acompanhava seu depoimento na PF, não pode atender à reportagem. Osman não foi localizado.

Moura não depôs à PF sob alegação de que vai apresentar sua versão à Justiça, um direito constitucional. Por meio de duas petições, uma para a PF e outra para a Justiça, o advogado criminal Tales Castelo Branco afirmou que a prisão temporária ¿não pode servir de instrumento medieval de coação¿.

CORREÇÃO

A reportagem PF liga lobista do caso BNDES a líder do PMDB, publicada na página A4 da edição de ontem, mencionou incorretamente o nome da empresa Magazine Luiza, que não tem nenhuma relação com o assunto tratado no texto. Foi um erro da Redação, que pretendia mencionar outra empresa envolvida na apuração da Polícia Federal. O Estado pede desculpas ao Magazine Luiza.

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