Título: Estudo abre caminho para nova técnica contra o HIV
Autor: Orsi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Vida&, p. A16

Inibição de proteína humana pode ajudar a reduzir ação do vírus da aids no organismo do paciente, permitindo combate mais eficaz da doença

A neutralização de uma proteína humana poderá abrir caminho para o combate mais eficaz ao HIV, causador da aids. Sem ela, o vírus perde os meios para se multiplicar e dar continuidade à infecção do organismo, segundo pesquisa divulgada ontem no website da revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os cientistas, liderados por Pamela Schwartzberg, do Instituto Nacional de Investigação sobre o Genoma Humano, dos Estados Unidos, conseguiram, em testes laboratoriais em culturas de células, bloquear uma infecção desativando a proteína ITK. Segundo Pamela, ela é essencial na ativação de funções dos leucócitos T necessárias para a replicação do HIV, 'incluindo a expressão dos genes do vírus e sua penetração na célula'.

Com isso, a equipe demonstrou, na prática, que a neutralização da ITK (interleucina 2, quinase induzida de célula T), reduz drasticamente a capacidade do HIV de se reproduzir no organismo. 'A ITK é uma proteína importante para ativar os leucócitos T, uma célula fundamental para o sistema imunológico normal, e um dos alvos principais da infecção por HIV', explica um dos autores do artigo que descreve a nova técnica, Andrew Henderson, da Universidade Estadual da Pensilvânia.

FOCO MUTANTE

A maioria dos tratamentos contra a aids fixa como alvo as proteínas do vírus responsável pela infecção. Mas o HIV é capaz de passar por múltiplas mutações e, com isso, suas proteínas se transformam rapidamente, o que produz uma resistência do vírus aos tratamentos convencionais.

O que os pesquisadores apresentaram é uma abordagem diferente: visar não o vírus, mas a proteína humana que age como 'inocente útil', ao permitir a entrada no HIV nas células e ajudar em sua reprodução.

ALVO FIXO

A equipe de Pamela descobriu que, atuando sobre a ITK, poderia bloquear a infecção por HIV nas células imunes humanas. Diferentemente das proteínas do vírus, a ITK registra pouquíssimas mutações, ressaltou a pesquisadora.

As seguidas tentativas de combater o vírus HIV fazendo frente a suas rápidas mutações, com a prescrição de combinações de medicamentos e alteração nos tratamentos podem, na realidade, incrementar o risco de efeitos colaterais tóxicos, e nem sempre são bem-sucedidas.

Quando o HIV entra no organismo, infecta os linfócitos T e assume o controle do mecanismo de defesa, o que permite ao vírus produzir cópias de si mesmo sem encontrar oposição. A infecção termina comprometendo o conjunto do sistema imune, o que provoca a aids - síndrome de imunodeficiência adquirida.

O trabalhado publicado na PNAS demonstra que, se a proteína ITK não está ativa, o vírus da aids não pode usar com eficácia os linfócitos T para se reproduzir, o que acaba desacelerando ou bloqueando sua propagação. O artigo publicado ontem descreve como camundongos submetidos ao tratamento para a inibição da ITK tiveram uma reação imunológica mais lenta à infecção por outros vírus que não o HIV, mas ainda foram capazes de responder a ela. O trabalho afirma, ainda, que inibir a proteína reduziu a disseminação do HIV em culturas de células.

Os cientistas já pediram uma patente para o processo de controle do HIV a partir da inibição da ITK, mas não há previsão para testes em humanos no futuro próximo. 'A esperança é que nosso trabalho interesse pessoas mais qualificadas para levá-lo ao próximo nível', afirmou Henderson.

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