Título: Só mudar o estilo de vida do diabético não é suficiente
Autor: Sant'Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Vida&, p. A17

Para o médico americano, é preciso negociar com o paciente um tipo de tratamento que ele consiga cumprir

Apenas a mudança da alimentação ou do estilo de vida de pacientes com diabete não será suficiente para conter a doença. Essa é a opinião do presidente da Associação Americana de Diabete, John Buse, que esteve no Brasil no último sábado para uma palestra exclusiva para médicos. Segundo estimativa da associação, 360 milhões de pessoas serão diabéticas até 2030.

Projeções da OMS sobre a doença

Para Buse, mais importante do que o número de pacientes será a forma de tratá-los.

Em entrevista ao Estado, o médico fala da importância de negociar com os pacientes um tratamento que eles realmente possam seguir.

Qual a importância da mudança de hábitos para o paciente diabético?

Leva muitos anos para uma pessoa desenvolver seu estilo de vida e mudar isso é muito difícil. Os médicos precisam oferecer alternativas para que as pessoas mudem os hábitos. Esse é o principal problema nos EUA. Os médicos dizem para seus pacientes deixarem de tomar refrigerante ou passarem a consumir produtos diet, mas as pessoas não querem as mudanças pois elas têm limites.

Como convencê-los?

Essa negociação é um problema. É muito difícil, pois as mudanças levam tempo para aparecer e eles querem continuar comendo a mesma coisa que comem hoje. A saída é negociar com o paciente um tratamento que ele possa seguir.

Parece uma visão pessimista. Isso não subestima a capacidade de mudança dos pacientes?

As pessoas pensam no agora e com a diabete pode levar até 20 anos para a doença se tornar mais grave. Como fazer para que elas deixem de comer as coisas que estão acostumadas se tomar um comprimido pode ser mais fácil?

Então, quais são os reais benefícios das mudanças?

Talvez apenas mudar o estilo de vida não seja suficiente. Um estudo conduzido na Inglaterra mostrou que, para 90% dos pacientes que passaram a praticar exercícios e a se alimentar bem, os benefícios duraram apenas dois anos. Se a pessoa tem um estilo de vida com hábitos saudáveis, mas é pré-diabético, fatalmente terá a doença.

Qual é a saída?

Parar de fumar, tomar os remédios corretos e fazer o controle da pressão arterial será benéfico não só para o nível de açúcar no sangue. O que percebo, no entanto, é que as pessoas não querem fazer mudanças tão grandes. A saída é fazer o controle da glicemia com a metformina (medicamento usado por diabéticos). Se isso não controlar a doença, têm sim que aderir à insulina.

Qual a tendência de evolução da doença no mundo?

Para China, México, Índia e principalmente Brasil, o problema será maior. A dieta do brasileiro está mudando, se aproximando da dieta do americano, e expondo cada vez mais a população aos riscos decorrentes dessa alteração. Para os descendentes de europeus, o problema é menor. Para os afrodescendentes, por uma questão genética, os impactos serão maiores.

ENTENDA A DIABETE

O que é a doença: pacientes diabéticos não produzem insulina no pâncreas ou produzem em níveis insuficientes para reduzir a taxa de açúcar no sangue (glicemia)

Sintomas: sede, fome e vontade de urinar exageradas, fadiga (cansaço), dores nas pernas, perda de peso, infecções repetidas e visão embaçada. No caso de diabete tipo 2, pode não haver sintomas

Prevalência: Estima-se que no Brasil, a doença atinja mais de

11 milhões de pessoas sem que muitas delas - cerca de 50% - saiba do diagnóstico

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