Título: Investimento externo em renda fixa cresce 40% mesmo com IOF
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Economia, p. B3

Estrangeiros aplicaram US$ 4,065 bilhões nesses papéis em março

A despeito da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas compras de títulos de renda fixa por investidores estrangeiros, as aplicações externas nesses papéis dispararam em março e somaram US$ 4,065 bilhões. O volume foi 40,85% maior que o de fevereiro e 7,5% superior aos ingressos de março de 2007.

A cobrança de 1,5% de IOF nas operações de estrangeiros em renda fixa e títulos públicos começou no dia 17 de março por determinação do Ministério da Fazenda. A medida tinha o objetivo de atenuar a entrada de capital estrangeiro estritamente financeiro no Brasil, para conter o processo de valorização do real ante o dólar, que, na visão da Fazenda, está fazendo estragos nas contas externas e prejudicando o produtor nacional.

Mas os dados de março, reforçados com os números preliminares de abril, mostram que nem o capital externo reduziu seu apetite por papéis brasileiro nem o câmbio reverteu sua trajetória de valorização. Tanto que as aplicações em renda fixa e ações em abril, até o dia 24, somavam US$ 5 bilhões. O Banco Central não divulgou o dado parcial de abril separado por grupo de investimentos.

O professor de economia da PUC de São Paulo Antônio Corrêa de Lacerda explica que a ineficácia da elevação do IOF sobre o movimento do capital estrangeiro tem uma razão clara: os juros elevados no Brasil. Com uma das taxas mais altas do mundo e com expectativa de elevação consolidada entre analistas, o investidor estrangeiro aplica no País mesmo com o custo do IOF. Para Lacerda, a tendência é que os investimentos externos cresçam ainda mais.

Ele explica que o diferencial de juros interno e externo está subindo porque as taxas lá fora estão em queda, enquanto a Selic sobe. ¿Você tem um diferencial muito grande de taxa juros, que é um estímulo à arbitragem. A alta mais recente do juro intensifica esse processo, pois aumenta a distância entre juro interno e externo¿, afirmou. ¿Essa é uma combinação perversa para o Brasil e tende a agravar valorização do real e deterioração das contas externas, pelo efeito negativo sobre as balanças comercial e de serviços.¿ Ele disse que no curto prazo a piora nas contas externas não é problema, mas como tendência é preocupante com o ritmo acelerado de elevação do déficit.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, concorda que o diferencial de juros mais que compensa o custo gerado pelo IOF. Ele argumenta que uma taxa de juros real elevada em um país que mostra solidez econômica torna praticamente uma obrigação para o investidor estrangeiro trazer seus recursos ao Brasil.

Mas ele não vê isso como problema. Para Vale, o ingresso de capital de curto prazo é efeito colateral da política do BC de combate à inflação, que é um risco maior para a economia. ¿O efeito colateral da alta de juros representa um custo menor em comparação com benefício maior de se segurar a inflação.¿ No longo prazo, o economista trabalha com um cenário de relativa estabilidade do câmbio, refletindo a trajetória de crescimento do déficit em conta corrente.

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