Título: ONU ataca veto do País à exportação de arroz
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2008, Economia, p. B9

Para agências ligadas à entidade, decisão do governo brasileiro contribui para a instabilidade dos mercados e ajuda a elevar as cotações

Em um encontro de emergência de dois dias iniciado ontem, na Suíça, para tentar solucionar a crise da alta nos preços dos alimentos, agências internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram a decisão do Brasil de restringir as exportações de arroz e pediram que os canais de exportação sejam mantidos abertos no mundo todo.

A entidade apelou por doações para compensar a crise e, assim, alimentar 73 milhões de pessoas no mundo. Entre as sugestões de organizações não-governamentais (ONGs) está, ainda, o fim da expansão de biocombustíveis nos países ricos, alegando que seria um dos fatores que estariam contribuindo para a alta nos preços.

A crise com a alta de 50% nos alimentos em seis meses obrigou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, a convocar às pressas todos os principais presidentes e diretores de agências, entre eles Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), e Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial. ¿O mundo nos observa para saber o que vai ocorrer. Precisamos nos esforçar para encontrar uma solução.¿

A idéia da ONU é apresentar hoje um plano para evitar que a fome se agrave no mundo e permita que a entidade continue distribuindo alimentos para 77 milhões de pessoas. A estratégia teria duas etapas.

A primeira seria a de convencer os governos a manter abertos os canais de exportação. O debate, porém, coloca frente a frente aqueles que defendem medidas protecionistas aos defensores do livre comércio. Ban é um dos que querem o fim de qualquer restrição e defendeu ontem que os canais de distribuição de alimentos estejam funcionando plenamente.

Lennart Baage, presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), não poupou críticas ao Brasil e as medidas de restrição às exportações. ¿Algumas dessas medidas não apenas contribuem para a instabilidade dos mercados globais, como também afetam os preços que os produtores conseguem obter para suas vendas¿, afirmou.

Em mais de 20 países, medidas foram tomadas para impedir as exportações de alimentos, supostamente para garantir o abastecimento interno e reduzir o preço no mercado doméstico. O Fundo elogiou a China, que tem dado crédito a pequenos agricultores atingidos e a famílias necessitadas. Enquanto isso, o sempre polêmico relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, acusou a OMC de ser a causa dos problemas. Para ele, são as barreiras aos produtos agrícolas e as altas taxas que permitem que os pequenos fazendeiros possam continuar produzindo.

Para a OMC, a solução de garantir abertos os mecanismos de comércio poderiam vir com a conclusão da Rodada Doha. Mas os efeitos seriam sentidos apenas no médio e longo prazos.

REVOLUÇÃO VERDE

A estratégia ainda consiste em convencer os governos a destinar US$ 3,2 bilhões para que a ONU possa alimentar os mais pobres. O valor seria US$ 775 milhões acima do que se havia previsto há seis meses e a idéia é de que as doações dos países ricos sejam suficientes para compensar a alta nos preços. Mas a ONG Oxfam e a entidade Care alertam que as doações não serão suficientes para resolver a crise.

A ONU prevê uma ¿revolução verde¿ nos países mais pobres como uma forma de incrementar a produção mundial em uma segunda etapa. Mas, para isso, necessitará de recursos, abertura dos mercados dos países ricos e tempo.

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