Título: FMI isenta Brasil na crise de alimentos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2008, Economia, p. B8
Relatório do Fundo culpa políticas dos EUA e da Europa pela disparada dos preços nos últimos anos
Um levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentado ontem aos líderes da ONU e obtido pelo Estado comprova que o etanol brasileiro não seria o responsável pela alta nos preços dos principais alimentos. O estudo, revelado pelo vice-diretor-geral do FMI, o brasileiro Murilo Portugal, aponta o etanol americano e europeu como responsável por parte da inflação no setor.
Portugal anunciou que a entidade tentará socorrer os países mais afetados pela alta nos preços dos alimentos. Ele afirmou que está sendo criado um plano de financiamento para ajudar 12 países africanos a lidar com os crescentes déficits em suas contas correntes por causa da importação de alimentos.
O representante do FMI apresentou ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, um estudo do Fundo sobre os impactos do etanol. ¿O etanol brasileiro não compete com a produção de alimentos. O Brasil não subsidia e tem terras suficientes¿, afirmou. ¿No caso da produção do milho, dois terços da alta nos preços desde 2005 é provocada pela expansão nos Estados Unidos e Europa. No caso da soja, metade da alta também se deve ao etanol americano. O custo do trigo aumentou também e um terço é causado pelo etanol¿, explicou Portugal.
De acordo com o estudo do Fundo, a alta histórica do arroz não tem relação nem com o etanol brasileiro nem com os biocombustíveis europeus e americanos. ¿20% da alta é gerada pelo petróleo e 80% por outros fatores¿, disse.
Segundo Portugal, a alta em geral é conseqüência da maior demanda por alimentos na China e Índia, redução de estoques e quebra de produção. O custo de energia também é importante. ¿Os fertilizantes triplicaram de preço e os custos de transporte duplicaram¿, disse. ¿A situação é preocupante e o choque dos preços é sério¿, alertou Portugal. ¿Nossa avaliação é de que a alta nos preços dos alimentos já está causando um desequilíbrio nas contas comerciais dos países mais pobres equivalentes a 1% do PIB (Produto Interno Bruto).¿
Apesar de destacar a crise de alimentos, Murilo Portugal alerta que um problema ainda mais sério para as balanças comerciais é o preço recorde do petróleo. ¿Sobre a energia, a reunião não falou tanto. Mas a realidade é que os problemas decorrentes da importação do petróleo são ainda maiores que o déficit de alimentos¿, disse.Na África, o déficit comercial já chega a 2% do PIB com o preço do petróleo. ¿O resultado é que, juntos, os alimentos e energia estão causando um déficit nas contas comerciais dos países africanos equivalentes a 3% do PIB.¿
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