Título: Bush autorizou colônias na Cisjordânia
Autor: Kessler, Glenn
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2008, Internacional, p. A15

Existência de carta, datada de 2004 e endereçada ao então premiê israelense, Ariel Sharon, é confirmada por Olmert

Glenn Kessler, The Washington Post, Washington

Uma carta entregue pessoalmente pelo presidente George W. Bush ao então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, há quatro anos, surge como um grande obstáculo para o líder americano obter um acordo de paz entre israelenses e palestinos em seu último ano no cargo.

Esta semana, o atual premiê israelense, Ehud Olmert, disse que, na carta, Bush deu permissão para Israel ampliar os assentamentos na Cisjordânia, que Israel espera manter após um acordo final de paz, embora o plano oferecido por Bush pedisse oficialmente um congelamento das construções israelenses em territórios palestinos.

Numa entrevista publicada nesta semana, o chefe de gabinete de Sharon, Dov Weiglass, disse que a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, reafirmou esse acordo secreto entre Israel e os EUA, acertado em 2005, pouco antes da retirada israelense da Faixa de Gaza.

Funcionários americanos dizem que tal acordo não existe e nos últimos meses Condoleezza vem criticando a ampliação das colônias nos arredores de Jerusalém, as quais Israel não considera oficialmente assentamentos. Mas, enquanto as negociações de paz se intensificaram nos últimos meses, também aumentou o ritmo de construção dos assentamentos, e Washington não adotou nenhuma medida contra Israel. Autoridades israelenses dizem ter orientação clara do governo Bush para prosseguir com as construções, desde que atendam a critérios meticulosamente negociados, embora isso pareça contradizer a política dos EUA.

Para muitos especialistas, a construção de assentamentos mina a posição do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e contribui para a desconfiança palestina com relação ao processo de paz. Na quarta-feira, em reunião com Condoleezza, Abbas disse que tais construções são ¿um dos maiores obstáculos¿ para um acordo de paz.

Acredita-se que Abbas reiterou essa posição em seu encontro de ontem com Bush na Casa Branca, mas nenhum dos dois falou publicamente sobre o tema. À imprensa, Bush disse que chegar a um acordo para a criação de um Estado palestino continuará sendo uma alta prioridade em seus dez meses restantes no cargo. Abbas, por sua vez, afirmou que a estrada para a paz ¿está repleta de obstáculos¿, mas expressou confiança na mediação de Bush. ¿Juntos, vamos trabalhar duro¿, afirmou o líder palestino.

`VAMOS CONSTRUIR¿

Os assentamentos abrigam atualmente 450 mil israelenses. ¿Desde o início ficou claro para Abbas, Rice e Bush que a construção continuaria nas concentrações de população - as áreas mencionadas em 2004 na carta de Bush¿, declarou Olmert ao jornal israelense Yedioth Ahronoth de domingo. ¿E digo novamente hoje: Beitar Illit será construído, Gush Etzion será construído; construiremos em Pisgat Zeev e em áreas israelenses em Jerusalém¿, acrescentou, referindo-se aos novos planos de expansão das colônias. ¿É claro que essas áreas continuarão sob controle israelense em qualquer futuro acordo.¿

Numa frase-chave da carta, Bush diz: ¿À luz das novas realidades no terreno, incluindo importantes centros populacionais israelenses já existentes, não é realista esperar que, como resultado final das negociações, vá haver um retorno total e completo às linhas estabelecidas no armistício de 1949.¿

Em carta que acompanhou a de Bush, para ¿reconfirmar¿ os acertos entre Israel e EUA, o chefe de gabinete de Sharon escreveu a Condoleezza que restrições à ampliação dessas colônias seriam estabelecidas ¿dentro dos princípios acordados para atividades ligadas aos assentamentos¿. Tais restrições incluiriam ¿uma melhor definição da linha de construção¿ de colônias na Cisjordânia. Uma equipe americano-israelense ¿definiria a linha de construção de cada um dos assentamentos¿.

Segundo Weissglas, a carta se baseou num entendimento anterior entre o então chanceler israelense Shimon Peres e o então secretário de Estado americano Colin Powell, que permitia a Israel criar assentamentos dentro das linhas de construção existentes. Mas Powell nega: ¿Nunca concordei com isso.¿

Daniel Kurtzer, na época embaixador americano em Israel, disse que a Casa Branca nunca prosseguiu com o plano para definir as linhas de construção: ¿Washington perdeu o interesse quando ficou claro que não seria fácil fazer isso.¿ Em janeiro, o assessor de Segurança Nacional dos EUA Stephen J. Hadley sugeriu que o objetivo da carta de Bush foi ajudar Sharon a obter aprovação interna para a retirada de Gaza. ¿O presidente obviamente ainda se atém a essa carta, mas é preciso analisá-la dentro do contexto em que foi escrita.¿ COM REUTERS

FRASE

George W. Bush Presidente dos EUA

¿É irreal esperar um retorno às linhas estabelecidas em 1949¿

Links Patrocinados