Título: Mercado em disputa movimenta US$ 30 bi por ano
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2008, Economia, p. B3

Recorde de vendas de veículos impulsiona o consumo de combustíveis no País, que cresceu 8,5% em 2007

Patrícia Cançado

A disputa acirrada de grandes grupos pelos ativos da Esso só confirma o potencial do mercado de combustíveis no Brasil. No ano passado, ele movimentou cerca de US$ 30 bilhões. Segundo estimativas de mercado, o consumo de combustíveis cresceu 8,5% em relação a 2006, movido pelo recorde de vendas de veículos no País.

O que chama atenção é a escalada do álcool. Enquanto as vendas de gasolina e diesel permaneceram praticamente iguais nos últimos anos, o consumo de etanol cresceu 27% desde 2004 e 50% apenas em 2007 no País. Em São Paulo, 60% do combustível vendido já é álcool.

Nesse cenário, a aquisição da Esso é tida como estratégica para a Cosan. Com a compra, ela assegura o canal de distribuição para o seu etanol, que está se tornando o principal combustível do País. A companhia é a maior produtora brasileira do combustível e uma das maiores do mundo. No ano passado, produziu 1,3 bilhão de litros de álcool, quase 1 bilhão a mais que em 2002. Sua produção é equivalente às vendas de etanol de toda a rede Esso.

'Esse é um negócio de margens baixas. Ao vender o próprio combustível, a Cosan consegue ter margens melhores sobre a venda na ponta final do consumo', diz o diretor de um fundo de investimento estrangeiro. 'A tendência agora vai ser de usinas de etanol entrando nessa área. Ou o contrário.'

Segundo fontes de mercado, a Global, distribuidora de combustíveis com forte presença no Centro-Oeste, teria se juntado ao Grupo Zema, de Minas Gerais, que também tem uma rede de postos, com o objetivo de explorar a produção de álcool. As empresas já teriam duas usinas em operação.

O vice-presidente da Cosan, Pedro Isamu, afirmou que a companhia não vai dar exclusividade à Esso na distribuição do seu produto. 'A produção de álcool da Cosan é quase igual à venda do mesmo combustível na rede Esso. A Cosan vai continuar fornecendo para os outros distribuidores, assim como a Esso vai continuar comprando combustível de outras usinas', explica Isamu. 'O Brasil vem crescendo quase uma Esso por ano. Não posso pensar em entregar toda a produção da Cosan à Esso, até porque um não pode encobrir a ineficiência do outro. Vamos comprar o etanol mais competitivo que nos for oferecido', completa o diretor de relações com o investidor da Cosan, Paulo Diniz.

PAGAMENTO

A rede da Esso tem grande sobreposição geográfica com as operações da Cosan. Cerca de um terço dos postos fica no Estado de São Paulo. Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são outras praças importantes da companhia. Todas as 18 usinas da Cosan ficam no interior de São Paulo.

A Cosan ainda pode ter um fundo de private equity como sócio minoritário da Esso. 'Ainda não há nada definido, mas um investidor se mostrou interessado em compartilhar essa operação conosco', afirma Diniz.

O período de integração das companhias será usado para definir a melhor estratégia de pagamento. Por enquanto, está definido que o depósito será integral e ocorrerá dentro de seis a oito meses. 'Temos US$ 1 bilhão em caixa e uma linha de financiamento de R$ 500 milhões', explica. 'A Cosan não vai pagar a dívida com o dinheiro da emissão de ações.'

Após o anúncio da compra, ontem à tarde, a agência de classificação de risco Standard & Poor's colocou em observação negativa o rating de crédito corporativo BB atribuído à Cosan. De acordo com a agência, os ratings podem ser rebaixados dependendo da estratégia usada para financiar a aquisição e do perfil financeiro da nova companhia.

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