Título: Lucro da Vale despenca 55% e fica em R$ 2,2 bi
Autor: Tereza, Irany ; Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2008, Economia, p. B13

Resultado foi afetado pela desvalorização cambial e pela queda do preço do níquel no mercado internacional

Irany Tereza e Alberto Komatsu, Rio

A desvalorização cambial e a queda do preço do níquel no mercado internacional fizeram a Vale amargar a perda de 55,8% no lucro líquido do primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado de R$ 2,253 bilhões interrompeu a trajetória de sucessivos aumentos nesse tipo de comparação, desenhada a partir de 2005. No ano passado, o lucro do primeiro trimestre, de R$ 5,095 bilhões, havia sido 133% superior ao de 2006. Coincidentemente, o resultado havia sido inflado pelo mesmo quesito que agora puxa para baixo o balanço: o níquel.

Depois da aquisição da mineradora canadense Inco, a segunda maior produtora de níquel do mundo, a Vale conseguiu alterar significativamente o seu mix de produtos, antes com predominância quase absoluta do minério de ferro. O níquel, em alta no mercado internacional, turbinou o desempenho da mineradora brasileira, que já vinha se mantendo em ascensão.

O primeiro trimestre de 2005 registrou aumento de 69,3% em relação ao mesmo período do ano anterior; em 2006, novo aumento, de 35,3%, e em 2007, o triunfo do crescimento acima de 100%. Na verdade, a partir de 2001, apenas o ano de 2004 registrou queda no primeiro trimestre, mesmo assim por causa de questões extraordinárias, como a amortização do ágio pago pela compra da Samitri e os gastos com a incorporação da Ferteco.

Desta vez, a Vale sentiu os reflexos da conjuntura econômica global. E numa intensidade superior à que estava sendo prevista pelo mercado. Analistas financeiros que acompanham o setor de mineração já esperavam lucro inferior - justamente pelos fatores destacados no relatório -, mas apostavam em queda de 10,2%. No relatório explicativo do balanço, a diretoria da companhia destacou como perspectiva futura a desaceleração da economia mundial, 'como conseqüência do choque financeiro global que teve origem nos problemas com hipotecas de alto risco nos EUA'. O tom alterna pessimismo e uma dose de crédito na recuperação: 'A economia americana é a mais afetada e onde a correção do mercado imobiliáriopotencializa a turbulência dos mercado financeiros. A Europa sofre os efeitos das perdas dos bancos com exposição a ativos americanos da valorização do euro (...). O crescimento japonês deve continuar lento (...). O corte agressivo das taxas de juros de curto prazo já realizado pelo Federal Reserve Bank, a oportuna implementação de um pacote fiscal e o enfraquecimento do dólar contribuirão para amenizar o impacto contracionista do choque financeiro. Porém, apesar de esperarmos uma recessão suave, acreditamos que a recuperação não será tão vigorosa como em episódios anteriores', diz o texto.

A valorização do real ante o dólar influenciou na redução de R$ 1,840 bilhão no faturamento da Vale no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2007. Nos primeiros três meses deste ano, a receita operacional foi de R$ 14,549 bilhões, apresentando queda de 6,3% em relação ao último trimestre e de 12,5% na comparação com o primeiro trimestre de 2007. Já a variação no preço dos metais significou impacto negativo de R$ 793 milhões. Isso foi compensado apenas em parte com o aumento do volume vendido, que contribuiu para um aumento da receita em R$ 553 milhões.

Apesar na queda do lucro, a Vale classificou como bom o desempenho do primeiro trimestre, destacando o fato de o lucro ter se mantido acima de R$ 2 bilhões (desde 2001, este patamar só foi ultrapassado em três ocasiões em primeiros trimestres: 2006, 2007 e 2008). 'A despeito dos efeitos negativos derivados da volatilidade de taxas de câmbio e das pressões de custos geradas pelo aumento de preços de insumos, a expansão da produção e o esforço de contenção de custos foram fundamentais para a obtenção de resultados fortemente positivos', destacou a direção da companhia, no comunicado de divulgação dos resultados.

NÚMEROS

2004 foi o último ano de queda no lucro da Vale no primeiro trimestre desde a virada do milênio.

10,2% era a previsão de queda feita pelos analistas.

R$ 1,84 bilhão foi o impacto da valorização do real no faturamento da empresa

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