Título: Crise de alimentos é passageira e não é perigosa, diz Lula
Autor: Lopes, Elizabeth
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2008, Economia, p. B16

Presidente volta a reagir às críticas ao etanol de cana e diz que produção de comida não acompanhou demanda

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a crise na oferta de alimentos, que também atinge o Brasil, ¿é passageira, não é coisa perigosa¿. Segundo ele, a produção de alimentos, não apenas no Brasil, mas no mundo, não cresceu proporcionalmente à demanda. ¿Esta é uma crise curta¿, reiterou, dizendo que isso vale para o arroz, a soja e o feijão. No caso do trigo, como o Brasil depende de outros países, como a Argentina, Lula disse que o País estuda aumentar a produção do grão. ¿Vamos produzir mais trigo e depender menos dos outros países¿, declarou Lula durante anúncio de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Campinas.

Em Paulínia, cidade a 25 quilômetros de Campinas e onde participou da inauguração da nova unidade petroquímica da Braskem, Lula disse que o governo tomou uma decisão cautelosa ao cogitar a suspensão das exportações de arroz. Na avaliação dele, antes de exportar o produto, é preciso saber se o volume de arroz que será produzido com a nova safra será capaz de atender a demanda interna.

¿Nós tomamos uma decisão de sermos cautelosos na exportação de arroz, porque o Brasil tem pouco mais de 1 milhão de toneladas em reserva, mas não podemos exportar antes de ver a nova safra. Não queremos correr o risco de faltar alimentos no Brasil¿, disse o presidente, em entrevista coletiva. ¿Nós vamos continuar exportando, mas há um problema de crescimento do consumo.¿

Lula comparou a situação do arroz com a quebra da safra de feijão no ano passado, que, segundo ele, não causou preocupações ao governo. ¿Nós tivemos um crise em Irecê (BA), e o Paraná diminuiu a produção em 29%. Mas como o feijão é uma cultura que dá em três meses, ou seja, se planta e se colhe, estamos tranqüilos, porque é uma coisa muito passageira.¿

Ao falar na crise dos alimentos, Lula aproveitou para criticar os países que condenam o aumento na produção de cana-de-açúcar para o etanol, sobretudo os Estados Unidos. ¿Este país era considerado de terceiro mundo e não era respeitado lá fora. Mas fizemos a revolução da indústria automobilística mundial com o biocombustível e isso eles não admitem¿, disse Lula. Ele classificou de ¿mentiras deslavadas¿ as afirmações feitas no exterior de que a crise dos alimentos está sendo provocada pela estratégia brasileira de privilegiar a produção de etanol. E atacou diretamente os Estados Unidos: ¿Eles resolveram fazer álcool de milho, que é comida de galinha e porco. Se é ração animal, não pode fazer combustível¿.

O presidente disse que pretende comprar essa briga e provar ao mundo que é possível o Brasil produzir alimentos e etanol. Apontando para a própria barriga, Lula disparou: ¿Seríamos ignorantes se não enchêssemos o nosso tanque para encher o tanque do carro. Vamos produzir álcool, biocombustível e alimentos, inclusive para encher a barriga de quem não tem terra para plantar¿.

Ao lado do governador José Serra (PSDB), com quem manteve animada conversa ao pé-do-ouvido durante a cerimônia, Lula anotou que ¿num primeiro momento o etanol brasileiro era uma coisa muito charmosa, mas num segundo momento os Estados Unidos atropelaram e começaram a produzir etanol com milho, criando uma discussão sobre a produção de alimentos no mundo¿.

¿Não é recomendável produzir álcool a partir do milho, ainda mais com milho subsidiado¿, insistiu o presidente. ¿Seria muito mais lógico que os Estados Unidos fizessem parcerias com a América Central e o Caribe para produzir etanol e que a União Européia firmasse parcerias com o Brasil e África.¿

Na defesa veemente que fez do etanol, Lula disse que ninguém critica o petróleo, que subiu muito de preço nos últimos meses. ¿E por que criticam lá fora o biocombustível, que é uma revolução e não polui?¿

Falando a uma platéia composta, em sua maioria, por populares que serão beneficiados pelas obras do PAC na região, Lula disse que era importante o povo saber que a inflação causada pela alta nos preços dos alimentos está ocorrendo porque ¿tem mais pobres comendo, graças a Deus¿. Ele destacou que em sua gestão o Brasil deixou de ser subserviente e ¿coitadinho¿ para se tornar uma grande potência exportadora de alimentos e manufaturados e produtora de alimentos e biocombustível. ¿A chance é agora de o Brasil se industrializar, se transformar numa economia forte, num dos maiores exportadores de alimentos do mundo sem abdicar da produção de combustível renovável, limpo, gerador de emprego e de riqueza.¿

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