Título: Dólar não pára de cair. E gasto com viagens sobe 50%
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2008, Economia, p. B9

Desembolso de US$ 8,9 bi no exterior nos 12 meses até fevereiro faz déficit do turismo atingir US$ 3,8 bi

Em tempo de dólar baixo e renda crescente, o turista brasileiro está tirando o passaporte da gaveta e fazendo do exterior um roteiro freqüente de férias. Essa opção tem um custo que aparece nas contas públicas do País: o gasto em viagens internacionais cresceu 48,7% nos últimos 12 meses.

O movimento é reforçado por passageiros de classe média baixa que têm tido o empurrão do financiamento em até 10 vezes para debutar no exterior. Em 12 meses até fevereiro, os brasileiros gastaram lá fora US$ 3,780 bilhões a mais do que o desembolso de estrangeiros no Brasil. O buraco da conta turismo nesse período é 117% maior que o déficit de US$ 1,737 bilhão acumulado no primeiro mandato do presidente Lula.

Depois de amargar período difícil desencadeado pelos atentados de setembro de 2001, disparada do dólar em 2002 e crise aérea, o setor do turismo renasce com o mesmo combustível responsável pelos recordes nas vendas de carros e imóveis: renda e crédito. A esses fatores, é preciso somar o câmbio favorável, o que torna gastos em moeda estrangeira - sobretudo em dólar - mais baixos em reais.

Esse boom é resultado de dois movimentos distintos. Entre os turistas que já visitavam o exterior, aumentou a freqüência das viagens e os destinos são cada vez mais distantes. Esse passageiro, dizem os agentes de viagem, é mais sensível ao dólar e reage rapidamente ao câmbio favorável. Mas os aeroportos internacionais também têm recebido um novo turista de classe média baixa, que faz sua primeira viagem internacional.

¿Há muito passageiro que já foi uma ou duas vezes para um destino nacional e tem aproveitado a situação econômica e os parcelamentos para viajar pela primeira vez para fora do País¿, diz o presidente da Associação Brasileira dos Agentes de Viagem (Abav), Carlos Alberto Amorim Ferreira.

Para quem estréia no exterior, Buenos Aires, Bariloche, Santiago e Miami são os locais preferidos. Para quem já tinha carimbo no passaporte, os destinos são novos e mais caros: Leste Europeu, África, Oriente Médio e Ásia.

¿O turista que estréia no exterior requer mais atenção, precisa de mais informação e muitas vezes ajuda com a língua. O relato dos guias mostra que isso é cada vez mais freqüente¿, diz o presidente da Associação Brasileira da Operadoras de Turismo (Braztoa), José Eduardo Barbosa.

Na periferia da zona sul de São Paulo, no Jardim São Luiz, autônomos, professores e alguns operários fazem parte desse grupo e muitos já se arriscam em tentar o ¿portunhol¿ na primeira viagem internacional.Mário Oliveira Luiz, proprietário da Novatur Turismo, diz que 15% das passagens vendidas na agência são para destinos internacionais, principalmente para a Argentina (ler mais ao lado).

Levantamento do Estado, com base em dados do Banco Central (BC), mostra que essa saída ao exterior aumenta fortemente desde meados de 2007. Em 12 meses até fevereiro, o gasto brasileiro em viagens internacionais aumentou quase 50% e atingiu US$ 8,925 bilhões. O valor é muito maior que o obtido com turistas que visitaram o Brasil, que deixaram US$ 5,144 bilhões no mesmo período, com crescimento de 15,6%.

Apesar do aumento do déficit e da participação expressiva do turismo no resultado negativo das contas externas, o analista da Tendências Consultoria Leonardo Miceli diz que os números ainda não são preocupantes. ¿É resultado do bom momento da economia. O turismo é diretamente ligado ao aumento da riqueza de um povo.¿

A presidente da Embratur, Janine Pires, diz que esse resultado negativo deve ser ao menos minimizado com o plano do governo de trazer mais estrangeiros para o Brasil. Em 2010, Janine quer trazer 7,9 milhões de turistas para o País, que devem gastar US$ 7,7 bilhões. No ano passado, 5 milhões de estrangeiros deixaram US$ 4,9 bilhões no País.

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