Título: Petrobrás pode reajustar gasolina em mais de 5%
Autor: Irany Tereza ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2008, Economia, p. B14

Presidente Lula nega que tenha sinalizado na sexta-feira que haverá reajuste no preço da gasolina

A Petrobrás já tem pronto o cálculo para reajuste da gasolina e do diesel nas refinarias. Mas, o anúncio depende ainda de aprovação do governo, que deve ocorrer nos próximos dias. De acordo com uma fonte da estatal, o aumento pode ficar acima de 5%, para compensar em parte a defasagem entre o preço doméstico e o valor que o barril do petróleo que beira os US$ 120 no mercado internacional.

Na última sexta-feira, ao participar de uma inauguração em Paulínia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez comentários que foram interpretados como uma preparação para a notícia. ¿Nós temos uma defasagem¿, reconheceu Lula, que emendou com a principal preocupação que retarda a decisão: o impacto na inflação. ¿Para que possamos tomar medidas de aumento de qualquer coisa na área de combustíveis, precisamos ver qual implicação vai ter na inflação.'

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, que também participava do evento, preferiu não fazer qualquer comentário a respeito. Na noite anterior, o executivo participara de uma audiência com Lula, em Brasília. Ontem, Lula negou que as declarações feitas em Paulínia fossem uma sinalização de reajuste e afirmou que o assunto ainda não foi discutido com a direção da Petrobrás.

Há 31 meses gasolina e diesel permanecem com preços inalterados. No último aumento, em setembro de 2005, a Petrobrás também apresentou como justificativa para o reajuste a constatação de que o petróleo de referência, que alcançara US$ 64,08 em Nova York, configurava um novo patamar de preço. Os executivos da estatal conseguiram, então, convencer o governo a reajustar em 10% a gasolina e 12% o diesel, depois de dez meses de ¿congelamento¿.

Um aumento de 5% na refinaria acarretaria reajuste entre 2,5% e 3% para o consumidor final, nos postos de combustíveis, na avaliação do presidente do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz. Ele considera natural o reajuste, diante da escalada dos preços internacionais. ¿O correto seria rever tudo, inclusive o preço do GLP¿, comentou, referindo-se ao gás de botijão, que não é reajustado há 64 meses. O botijão de 13 quilos, usado principalmente por consumidores de baixa renda, tem seu preço quase subsidiado e não aumenta desde dezembro de 2002.

A defasagem não começou agora. Técnicos avaliam como nova faixa de preço internacional do petróleo o intervalo entre US$ 115 e US$ 120 dos últimos 20 dias. Mas, quando chegou a US$ 100, o produto já estava vários degraus acima da faixa de US$ 65 que detonou o último reajuste interno.

Mas os técnicos consideraram que a valorização do real no período seria suficiente para segurar o preço. ¿Se não fosse isso, não seria possível¿, disse uma fonte da Petrobrás.

Há algum tempo está sendo travada uma queda-de-braço no governo entre os que defendem reajustar ou não os preços dos combustíveis. Gasolina e diesel são os mais representativos nos resultados da Petrobrás, correspondendo a 60% do faturamento. Por outro lado, a gasolina tem um peso de 5% na inflação e o diesel, de 1%.

CONGELAMENTO BRANCO

Analistas do mercado financeiro cobram algum repasse para absorver o impacto negativo do ¿congelamento branco¿ nos resultados da empresa. A estatal se vê obrigada a importar a um preço mais alto e vender por até 30% menos no caso do diesel ou 18% no caso da gasolina. A situação é agravada pela perda de mercado interno da gasolina para o álcool. Com o aumento da frota de carros flex, o álcool, que é mais barato, ultrapassou as vendas de gasolina.

De acordo com o Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a continuar no mesmo ritmo, a Petrobrás fecharia 2008 com um déficit de US$ 8 bilhões em sua balança comercial, contra US$ 5,6 bilhões no ano passado. O diretor do CBIE, Adriano Pires, acredita que a estatal deverá optar por um reajuste apenas nos preços do diesel. ¿É mais difícil que a empresa opte por um reajuste no preço da gasolina, já que esta tem um reflexo maior sobre a inflação. Além disso, a gasolina sofre com a concorrência do álcool no mercado interno e aumentar seu preço faria com que os consumidores migrassem ainda mais para o álcool.¿

Nos postos, os consumidores já se preocupam. ¿Não precisa aumentar nada¿, afirmou o advogado Diógenes Feitosa, de 64 anos. ¿Já há muitos impostos no preço da gasolina que nem devem ser repassados. É só olhar a situação das estradas¿, disse.

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