Título: Guerra entre agências apressou nota
Autor: Gobetti., Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2008, Economia, p. B6

S&P brigava com a concorrente Fitch para ver quem concederia primeiro ao Brasil o grau de investimento

A equipe econômica já esperava pela promoção do Brasil à condição de investimento seguro (investment grade) no primeiro semestre, mas se surpreendeu que o upgrade da agência Standard & Poor¿s (S&P) tenha vindo ainda em abril, antes mesmo da visita dos analistas ao País. ¿Já havia um rumor sobre o interesse da S&P em elevar a classificação de risco antes das demais agências¿, disse ao Estado um assessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

No dia 14 de abril, durante o encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Nova York, Mantega teve um encontro reservado com o staff da S&P, na própria sede da agência.

Na reunião, que durou uma hora e meia, o ministro adotou o discurso do Banco Central e fez de tudo para impressionar os interlocutores, como garantir que o governo brasileiro estava pronto para enfrentar a crise internacional e não cogitava reduzir o superávit primário (reserva para pagar a dívida pública). ¿Se a crise piorar, o Brasil vai estar pronto para elevar os juros e o superávit¿, teria dito Mantega.

Logo em seguida, dois fatos decisivos teriam reforçado a credibilidade do discurso do ministro: a decisão do BC, no dia 16, de iniciar um ciclo de aperto da política monetária para enfrentar a pressão inflacionária, e os resultados fiscais divulgados na terça e na quarta-feira, mostrando que o governo tem folga para cumprir suas metas, mesmo sem a receita da CPMF. ¿A gota d¿água foi a gente ter obtido superávit nominal no primeiro trimestre¿, disse um porta-voz do ministro.

Nos bastidores, assessores de Mantega e do presidente do BC, Henrique Meirelles, travam uma espécie de duelo para convencer o mercado e a mídia sobre qual fator foi mais relevante para a conquista antecipada do grau de investimento: o aperto monetário, segundo o BC, ou o resultado fiscal, segundo a Fazenda.

Na prática, entretanto, é possível que o fator determinante para a S&P tenha sido uma concorrência que trava com as demais agências. Neste bom momento por que passa a economia brasileira, a agência que saísse na frente com a mudança na classificação de risco do País tenderia a ganhar pontos no marketing do mercado.

No ano passado, por exemplo, os analistas da S&P não gostaram que a agência Fitch tenha sido a primeira a elevar a classificação do Brasil para o nível imediatamente anterior ao investment grade. ¿Sabendo que os analistas da Fitch viriam ao Brasil no início de maio e vendo que os indicadores do Brasil já estavam maduros, a Lisa Schineller decidiu se adiantar¿, conta o assessor de Mantega. Lisa é a analista da S&P responsável pelo Brasil. Dos técnicos das três principais agências de risco (S&P, Moody¿s e Fitch), ela é considerada a mais experiente e a que mais conhece as contas do setor público brasileiro.

Diante do quadro que tinha da economia brasileira, Lisa avaliou que não haveria por que esperar até o segundo semestre para conceder a promoção. Em primeiro lugar, porque os indicadores fiscais estão sólidos o suficiente para afastar qualquer risco de calote, e o BC já opera, na prática, com autonomia operacional na definição da taxa de juros.

Em segundo lugar, embora haja uma agenda de reformas, sua não concretização não é obstáculo para a melhoria dos fundamentos da economia brasileira. Por fim, não há nada que faça a S&P crer que as reformas possam ocorrer no segundo semestre, o que justificaria a maior espera.

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