Título: Documento da PF enviado à Justiça cita Paulinho no caso do BNDES
Autor: Macedo, Fausto; Pereira, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2008, Nacional, p. A4

Ofício encaminhado à 8ª Vara Criminal pela Polícia Federal cita deputado do PDT de São Paulo

Ao contrário do que afirmou o ministro da Justiça, Tarso Genro, quando questionado pela presidência da Câmara sobre a ação de agentes federais dentro da Casa, a Polícia Federal mira objetivamente o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP). Em documento oficial enviado à Justiça Federal no dia 26 de março, a PF registrou que suspeita da ação do parlamentar em desvios de recursos públicos a partir de financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Por meio do ofício número 5073, de 15 páginas, a PF denuncia ¿vazamento de informações¿ e pede a decretação da prisão temporária da organização que teria infiltrado agentes em repartições públicas para fraudar o BNDES.

No parágrafo quinto da página 4 a PF relacionou os alvos da investigação, então secreta, e associou Paulinho ao grupo: ¿Quanto ao modus operandi, apurou-se que parte do valor liberado pelo banco, de 2% a 4% do total do financiamento, é desviada e repartida entre Manuel, Mantovani, Jamil, Boris, João Pedro , Ricardo Tosto, e outros dois não identificados, possivelmente as pessoas de José Gaspar, sem mais dados qualificativos, e o deputado federal Paulo Pereira da Silva.¿ (Em outro documento, juntado aos autos, a PF identifica José Gaspar Ferraz de Campos, vice-presidente estadual do PDT, como suposto beneficiário da partilha.)

No capítulo que intitulou ¿desvio de verbas públicas¿, a PF cita Paulinho e descreve dados relativos a financiamentos concedidos às Lojas Marisa, um no valor de R$ 220 milhões e outro de R$ 184 milhões , e à Prefeitura de Praia Grande (SP), de R$ 124 milhões.

No texto encaminhado à 8ª Vara Criminal Federal, há 35 dias, a PF amplia o leque de suspeitos com cadeira no Congresso. ¿É possível que haja outros desvios, além dos supostos 2% a 4%, envolvendo deputados federais e prefeitos.¿

E anuncia sua próxima meta, mas em outra instância judicial, dada a condição peculiar de Paulinho - como deputado, ele não pode ser investigado nessa etapa da Operação Santa Tereza. ¿Está sendo planejada uma futura investigação, com as cautelas de respeito às prerrogativas de foro¿, assinala a PF.

VIGILÂNCIA

Seis semanas antes de produzir esse documento, a Polícia Federal já havia escalado seus homens para rastrear os movimentos de João Pedro de Moura, ex-assessor de Paulinho e ex-conselheiro do BNDES, apontado categoricamente no inquérito como principal operador da organização.

A missão federal incluiu vigilância perseverante sobre Moura, até pelos corredores da Câmara, onde ele chegou na manhã de 13 de fevereiro carregando mochila que teria deixado no gabinete 217, de Paulinho da Força. Moura foi filmado pelos federais ao lado do deputado pedetista e, depois, deixando o gabinete de outro parlamentar, Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara.

Indignado com a incursão federal em seus domínios, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), cobrou explicações do ministro da Justiça, que negou que Paulinho seja alvo da Operação Santa Tereza. Mas o ofício 5073 não deixa dúvidas de que a meta dos federais é o deputado do PDT.

Ontem, o delegado Rodrigo Levin, que conduz a apuração sobre o caso, declarou que a PF ¿está analisando indícios e motivos de instauração de inquéritos¿ relacionados a alvos com prerrogativa de foro. Não citou nomes. Indagado se Paulinho era um deles, respondeu: ¿Têm câmara (de TV). Se não tivesse eu mexia com a cabeça.¿

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