Título: Pressionado, Chávez recua em proposta de educação bolivariana
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2008, Internacional, p. A16

Novo ministro, que substitui irmão de líder, anuncia revisão em reforma de currículo, alvo de críticas da oposição

com Afp

O novo ministro da Educação da Venezuela, Héctor Navarro, anunciou ontem que está disposto a dialogar com setores da oposição sobre a polêmica reforma do currículo escolar do país. Navarro afirmou que, por instruções do presidente Hugo Chávez, começará uma ¿grande análise¿ sobre o currículo, sem pressa, mas sem pausa. ¿Vamos trabalhar permanentemente nessa direção¿, disse Navarro, que foi nomeado ministro terça-feira à noite, para substituir Adán Chávez, irmão do presidente venezuelano. Navarro ocupava antes a pasta de Ciência e Tecnologia.

Adán era o promotor da reforma educacional destinada a propagar o socialismo no país - rejeitada por grande parte dos estudantes, professores e pais de alunos. Chávez justificou a saída do irmão do ministério afirmando que Adán se dedicaria integralmente às atividades do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) para as eleições locais e regionais de novembro. Ao fazer o anúncio da saída de Adán, o presidente disse que a educação deve respeitar todas as correntes de pensamento e definiu como um ¿erro¿ tentar impulsionar o socialismo a partir das escolas.

No início do ano, o Ministério da Educação começou a treinar professores com base no conteúdo do novo currículo, cujo projeto deveria ser submetido a uma consulta popular em 2009. A proposta de currículo nacional tinha conceitos como ¿socialismo¿, ¿desenvolvimento interno¿ e ¿nova geometria do poder¿ - idéias que foram esboçadas no projeto de reforma constitucional rejeitado em referendo por 50,6% da população em dezembro. Associações de pais de alunos, federações de professores e setores universitários são contra a reforma - considerada uma tentativa de ¿impregnar de ideologia¿ a educação. Na semana passada, manifestantes nos Estados de Anzoátegui e Zulia protestaram contra o início da aplicação de um plano piloto do novo currículo.

O cientista político venezuelano Oscar Reyes, da Universidade Andrés Bello, afirmou que a decisão do presidente está ligada diretamente às eleições de novembro e à sua constante queda de popularidade. ¿O projeto de reforma tem uma enorme rejeição e Chávez não quer piorar seu desempenho nas pesquisas¿, disse Reyes, por telefone, ao Estado. ¿A popularidade do presidente já está baixa por causa da recente tensão com o governo colombiano e também pelo problema da escassez de alimentos no país.¿ Ontem, Chávez reuniu-se em Caracas com o chanceler francês, Bernard Kouchner, para discutir a atual crise entre seu país e os governos da Colômbia e do Equador. A tensão internacional contribuiu para que o apoio ao líder declinasse fortemente, até chegar à faixa dos 30%, segundo institutos privados de pesquisas.

Diante desse quadro, Chávez reconheceu recentemente que o PSUV poderia perder alguns governos importantes e qualificou as eleições do segundo semestre como ¿vitais¿ para consolidar seu projeto de governo. ¿Chávez tem sido muito cuidadoso por causa das eleições¿, disse Reyes. ¿Ele tomou essa decisão principalmente para baixar a pressão da sociedade sobre ele.¿ Segundo Reyes, o retrocesso na proposta de reforma não significa seu fim. ¿O presidente tentará outras maneiras para conseguir implementar as mudanças que quer.¿

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