Título: Brasil já é grau de investimento
Autor: Modé, Leandro; Marquez, Nélia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2008, Economia, p. B1

A agência de classificação de risco Standard & Poor¿s (S&P), considerada a mais importante do mercado financeiro, promoveu ontem o Brasil ao chamado grau de investimento. Isso significa que, de acordo com essa agência, o País é um porto seguro para investidores do mundo todo. Por isso, a notícia foi recebida com euforia pelos mercados e pelo governo.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparou 6,33%, para 67.868 pontos, novo nível recorde. O dólar despencou 2,52%, para R$ 1,663, em resposta à expectativa de que o Brasil atrairá mais investimento externo daqui para frente.

Em discurso durante evento em Maceió, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou a novidade. ¿É uma conquista do povo brasileiro, que esperou por isso durante tantos e tantos anos¿, disse. Para ele, o novo status do País tem um significado a mais. ¿É o aval de que passamos a ser donos do nosso nariz.¿

A S&P elevou a nota do Brasil de BB+ para BBB-. A escala da agência vai de AAA (concedido a países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido) até D (conceito para países insolventes).

A analista da S&P responsável pelo Brasil, Lisa Schineller, afirmou que o grau de investimento reflete o bom nível da política econômica, caracterizado por uma postura ¿pragmática¿, especialmente na manutenção da solidez das contas públicas e liberdade para que o Banco Central (BC) continue combatendo a inflação com rigor.

¿A política econômica pragmática indica que o Brasil tem uma perspectiva de crescimento mais forte no futuro, que deve ser sustentável¿, comentou. Para ela, a tendência de crescimento da economia brasileira dá condições para que o País tenha credibilidade para financiar seu déficit nas transações com o exterior. Segunda-feira, o BC divulgou que o buraco nas contas externas do País atingiu US$ 10,7 bilhões no primeiro trimestre.

As agências de risco são contratadas por empresas e governos do mundo todo para avaliá-los do ponto de vista de solvência. As três principais são S&P, Moody¿s e Fitch. Todas têm sido duramente criticadas por causa de sua atuação na crise das hipotecas (subprime) dos Estados Unidos. Para muitos analistas e investidores, elas não avaliaram corretamente o risco desses bônus, que acabaram virando pó e provocaram prejuízos bilionários.

O rating brasileiro que a S&P mudou ontem é o chamado soberano, que diz respeito à capacidade de o governo honrar o pagamento dos títulos que emite - neste caso, em moeda estrangeira.

Apesar do clima de otimismo, alguns analistas afirmaram que o governo não deve se acomodar com o grau de investimento. ¿(A nota) é um ponto de partida, não um destino final¿, alertou o economista-chefe do banco Morgan Stanley, Marcelo Carvalho. Até porque, lembram outros especialistas, já houve países que perderam o grau de investimento, caso da Colômbia.