Título: Rating fortalece mercado de capitais do País
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2008, Economia, p. B5

Lançamento de ações e outros papéis será boa alternativa para as empresas se financiarem

A conquista do grau de investimento dará novo fôlego para o mercado de capital brasileiro. Com um ambiente mais estável, ratificado pela nota concedida ontem pela agência de classificação de risco Standard&Poor¿s, o País entra na rota dos investimentos de fundos e aplicadores estrangeiros que antes tinham restrição para pôr dinheiro em ativos do Brasil.

O movimento significará uma ótima alternativa para as empresas se financiarem por meio do lançamento de ações ou outros papéis. ¿O investiment grade (como a classificação é conhecida internacionalmente) vai trazer uma quantia de dinheiro que não é nada desprezível para o mercado interno. E isso tende a levar muitas companhias a fazer IPO (Oferta Inicial Pública)¿, afirma o economista da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa.

Segundo ele, não havia muita gente que esperava a melhora do rating já neste primeiro semestre. Por isso, nem tudo foi antecipado. ¿Se fosse para quantificar, diria que dois terços dos investimentos já entraram no mercado interno nos últimos meses. Falta um terço¿, afirma o economista. No ano passado, o volume de IPOs somou mais de US$ 20 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), sendo a maioria das ações comprada por estrangeiros, destacou o economista do Santander, Maurício Molan.

Ele afirmou, porém, que o grau de investimento não garante que esse volume vai dobrar este ano. ¿Mas traz uma convicção maior de que sempre haverá recursos para financiar o mercado.¿ Para o economista, parte do fluxo de investimentos por causa da melhora na classificação de risco foi antecipada nos últimos meses.

O maior acesso das empresas ao mercado de capital com custos menores pode significar aumento do volume de investimento no País, já que parte do dinheiro conseguido no lançamento de ações é injetado na ampliação e modernização de negócios. Ou seja, o grau de investimento também será sentido pelos cidadãos brasileiros num espaço maior de tempo, na forma de emprego e renda, explica o economista do ABN Amro Real, Cristiano Souza.

¿No longo prazo, o reflexo da melhora na classificação de risco é o crescimento sustentado do País. Ninguém deve imaginar que vai acordar amanhã com um Brasil mais rico por causa disso.¿ Na opinião dele, a nota reflete o reconhecimento de uma condição muito boa da política econômica do País, cuja mudança começou a ser desenhada com o Plano Real.

Os economistas destacam, porém, que receber o grau de investimento não significa que todo o dever de casa foi feito. Pelo contrário. ¿A classificação é uma análise de crédito e indica que o País não tem problema de solvência. Mas há uma série de reformas, como a tributária, que precisam ser feitas para atrair o investimento direto estrangeiro¿, avalia o economista da Modal. Segundo ele, foi exatamente por causa da falta de reformas, que inibe os investimentos e provoca o descompasso entre oferta e demanda, que o Banco Central (BC) foi obrigado a elevar os juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de 11,25% para 11,75% ao ano.

Há quem acredite que o grau de investimento possa ser um fator positivo para inibir o ciclo de alta da Selic. Isso porque a entrada maior de recursos no País tende a derrubar ainda mais a cotação do dólar frente ao real, o que tende a prejudicar as exportações nacionais. Ontem, na divulgação da classificação de risco, a moeda americana despencou 2,52%, para R$ 1,66. ¿Estar num time de primeira exige que o País tenha taxas de juros compatíveis com a dos demais. Por isso, o BC tem de reduzir os juros. Há outras formas para conter a inflação¿, destaca o diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida.

Mas os economistas do mercado não acreditam que o BC vá mudar o rumo da política monetária num cenário de demanda interna aquecida e crise mundial de alimentos. ¿Acho que o BC só reduziria os juros se o câmbio fosse a R$ 1,40. Não é o que esperamos¿, diz a economista da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.

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