Título: Há dois meses, BCs temiam recessão
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2008, Economia, p. B3

Em março, discussões na reunião do BIS concentraram-se no impacto que a crise nos EUA poderia ter no mundo

Se há dois meses o tema da reunião dos presidentes de bancos centrais na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia, Suíça, era a perspectiva de desaceleração econômica mundial, no encontro de hoje os assuntos hegemônicos devem ser a inflação internacional e o preço dos alimentos e das commodities.

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A preocupação entre autoridades monetárias é crescente porque, embora alguns especialistas em mercado julguem que o pior da crise das hipotecas já tenha passado nos Estados Unidos, a inflação não pára de subir em regiões como a zona euro.

A convicção expressa pelas autoridades monetárias nos últimos encontros realizados na Basiléia é de que o quadro internacional é ainda muito volátil. ¿Teremos uma conclusão melhor amanhã. Mas o tema central será inflação¿, antecipou um presidente de Banco Central, que pediu para não ser identificado. ¿Hoje se fala mais sobre inflação do que possibilidade de recessão. Existe uma demanda de consumo na China, na Índia e também no Brasil¿, disse o executivo. O grau de contaminação dos mercados emergentes também deve voltar a ser debatido. ¿A crise pode afetar o Brasil¿, observou.

Em janeiro, a preocupação pairava sobre a necessidade ou não de uma nova intervenção dos bancos centrais nos mercados. À época, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, confirmou que os BCs cogitavam uma nova ação coordenada - o que acabou ocorrendo.

Depois da intervenção das autoridades monetárias nos mercados, o valor injetado pelos governos desde o início da crise do subprime chegou a US$ 270 bilhões. O valor reduziu a tensão dos mercados, mas é uma fração do custo total da crise, que chegaria a US$ 945 bilhões, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na reunião seguinte, realizada em março, a inflação já havia ganhado destaque na pauta, dividindo as atenções com a desaceleração da economia e o risco de recessão. Agora, após as ¿revoltas da fome¿ ocorridas na África e na Índia, a elevação internacional dos preços de alimentos e commodities tornou-se protagonista das discussões.

No Brasil, conforme a Fundação Getúlio Vargas, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) subiu bastante no primeiro quadrimestre deste registrou em comparação com igual período de 2007. No intervalo, mês a mês, a inflação subiu 0,50%, 0,27%, 0,34% e 0,04% no ano passado, ante 1,09%, 0,53%, 0,74% e 0,69% neste ano.

Números divulgados pelo escritório europeu de estatísticas (Eurostat) também indicam alta da inflação na zona euro, que chegou a 3,5% em março (na comparação de 12 meses), novo recorde histórico da série iniciada em 1999. A elevação seria causada, entre outros fatores, pelo aumento do preço do barril de petróleo, que superou os US$ 100 no mês passado (atualmente, a cotação já beira os US$ 120). Em dezembro, a inflação em 12 meses na Europa foi de 3,1%. Em janeiro, foi a 3,2% e, em fevereiro, atingiu 3,3%. Em todos os meses, ficou acima do limite tolerado pelo BCE. Em médio prazo, o objetivo da instituição é de manter a inflação anual abaixo de 2%.

Estatísticas recentes dos Estados Unidos ajudam a ampliar o temor de continuidade da alta dos preços. Embora o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) preveja a estabilização do preço da energia e das matérias-primas, a estagnação ainda não ocorreu de fato. Desde setembro de 2007, quando a instituição deu início à redução da taxa básica de juros - hoje em 2% ao ano -, o barril de petróleo subiu 39%, enquanto as matérias-primas sofreram reajustes médios de 24%.

Em meio aos dados negativos que serão apreciados hoje pelos presidentes de bancos centrais, incluindo o brasileiro Henrique Meirelles, uma das poucas notícias positivas foi a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no primeiro trimestre. Em lugar do crescimento negativo previsto pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, houve expansão de 0,6%.

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