Título: Naufrágio no AM deixa pelo menos 15 mortos
Autor: Alves, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2008, Metropole, p. C1

PM tirou passageiros à força, mas barco ainda seguiu superlotado

Pelo menos 15 pessoas morreram no naufrágio do barco Comandante Sales, na madrugada de ontem, no Rio Solimões, no interior do Amazonas. O número de desaparecidos pode chegar a 80. A quantidade de vítimas só não foi maior porque policiais militares chegaram a retirar, à força, passageiros de dentro da embarcação.

Parte dos passageiros foi salva por pescadores que passavam pela região em um barco a motor. No local, o Solimões tem 100 metros de profundidade. Corpos de vítimas foram encontrados a 30 quilômetros do local. A distância entre as margens é de 5 quilômetros. Até o fim da tarde de domingo, 20 pessoas se apresentaram a autoridades em Manacapuru (a 68 km de Manaus), se dizendo sobreviventes.

O 9º Distrito Naval vai abrir inquérito para punir os proprietários da embarcação, que não tinha autorização para transportar cargas nem passageiros. A barco já havia sido apreendido em 19 de janeiro pela Capitania dos Portos e o dono, Francisco Alves de Sales, acabou intimado a comparecer à capitania em Manaus, o que não ocorreu até agora. A Marinha informou ainda que a embarcação estava com documentação irregular e sem tripulação treinada.

A tragédia ocorreu por volta de 5h50, 20 minutos depois que o barco deixou a comunidade Lago Pesqueiro com destino a Manacapuru. A viagem duraria 1h20. Segundo testemunhas e sobreviventes, o Comandante Sales estava superlotado. Chovia forte e as águas do rio eram agitadas por ¿banzeiros¿ (pequenas ondas) - que causaram o tombamento.

Os passageiros retornavam da Festa do Raimundo Souza, patrocinada por uma família tradicional da região sempre no dia 3 de maio. Cada um desembolsou R$ 5. Agentes das Polícias Civil e Militar do Amazonas informaram que mais de 120 pessoas estavam a bordo - a lotação é de 80.

De acordo com o policial civil Mauro Pessoa, um dos primeiros a chegar ao local, muitos corpos estavam engatados em redes de dormir. ¿A maior dificuldade foi retirar as pessoas presas dentro dos camarotes.¿

A água barrenta do Solimões e a forte correnteza também dificultaram os trabalhos das lanchas, de um navio da Patrulha Fluvial e de um helicóptero da Marinha na tarde de ontem. Participavam da mesma operação cem homens das Polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros, da Marinha e das Defesas Civil de Manaus e de Manacapuru.

Por causa da forte correnteza, o Comandante Sales foi amarrado a outras duas embarcações. À tarde, os bombeiros ainda decidiram montar uma barreira flutuante, com bóias e redes, na frente da comunidade Bela Vista, a 30 quilômetros do local do acidente, numa tentativa de evitar que os corpos desapareçam no Solimões. E a equipe de resgate já sabe que terá muita dificuldade até para definir o número correto de passageiros que precisa resgatar. A tripulação não tinha lista de passageiros. As buscas foram suspensas às 20 horas e serão retomadas hoje.

O prefeito de Manacapuru, Washington Régis, afirmou que toda a cidade está consternada com a tragédia. Segundo ele, apesar da ação da PM para esvaziar a embarcação, ¿muita gente acabou se escondendo¿. Para Régis, é preciso criar uma ¿cultura de segurança¿. ¿Se a própria tripulação não tomar consciência, fica difícil resolver o problema só com a polícia.¿

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