Título: Promessas de seriedade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Notas e Informaçoes, p. A3

O Brasil agora é reconhecido como dono do seu nariz, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, comemorando a classificação do País como lugar seguro para se investir. A frase é mero cacoete, reminiscência de um esquerdismo juvenil, e ainda pode impressionar quando repetida para o auditório certo. Mas ser dono do próprio nariz não significa reduzir o entusiasmo diante da perspectiva de ingresso de novos capitais para o setor produtivo nem isentar o governo de compromissos com a orientação econômica preferida no mercado financeiro global. Em abril, esses compromissos foram reafirmados em Nova York pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião com representantes das três principais agências de classificação, a Standard & Poor's, a Fitch e a Moody's. Semanas depois, foram reiterados pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo ela, não há por que abandonar o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e o superávit primário nas contas públicas.

Não basta conquistar o grau de investimento: é preciso manter a sensatez e a seriedade, lembrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu programa semanal de rádio, nessa segunda-feira. Na semana passada, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, havia dado um toque mais dramático à mesma observação: vários países foram incapazes de manter o novo status. O primeiro desafio, portanto, é evitar o retrocesso. Mas o Brasil apenas alcançou o primeiro nível do grau de investimento e o grande objetivo, portanto, é continuar subindo - mandando no próprio nariz, naturalmente, mas sem perder de vista a avaliação de quem comanda os grandes fundos de capital.

Para continuar em ascensão, o Brasil terá de reforçar seu potencial de crescimento econômico. Ao comunicar ao mercado a nova classificação do País, a Standard & Poor's cuidou desse tema. Indicou as condições necessárias, em sua opinião, para a economia brasileira crescer, de forma sustentada, mais de 4% ou 4,5% ao ano. A lista de tarefas é bem conhecida: simplificar o regime tributário, abrir mais a economia, reduzir o endividamento público e diminuir as necessidades de financiamento do governo. Para isso será necessário, entre outras medidas, tornar o orçamento mais flexível e cortar o gasto corrente do governo. Tudo isso está no documento divulgado pela agência no dia 30 de abril.

Nada, nessa lista de recomendações, é novo para o governo. A política fiscal e os indicadores das finanças públicas, segundo a Standard & Poor's, são os principais pontos fracos do crédito brasileiro. Isso é explicitado no informe da agência.

Não basta, portanto, apenas manter a política seguida até agora. É preciso fazer algo mais. Mas o presidente Lula e seus auxiliares parecem só perceber, por enquanto, um novo desafio associado à conquista do grau de investimento: se o ingresso de capitais continuar crescendo, o dólar continuará a cair no mercado brasileiro, com prejuízo maior para o produtor forçado a enfrentar a competição internacional.

A solução, segundo o ministro da Fazenda, poderá ser a elevação da barreira ao capital especulativo. O assunto será discutido amanhã numa reunião comandada pelo presidente. Mas o pedágio fiscal pode ser ineficiente, por causa da enorme diferença entre o juro real brasileiro e aquele encontrado nas demais economias.

Melhor remédio, portanto, deve ser a redução do juro, segundo a opinião de conhecidos economistas. Mas, para isso, reconhecem alguns dos analistas mais cuidadosos, o BC precisará da cooperação do Executivo. Não adianta, segundo esses analistas, baixar o custo do dinheiro enquanto o governo continua aumentando seu gasto e alimentando as pressões de demanda. Em outras palavras: para neutralizar um problema decorrente da promoção ao grau de investimento, a melhor solução será uma política fiscal ainda mais séria do que aquela mencionada nos últimos pronunciamentos do presidente Lula. Conter o gasto público não é apenas uma condição para um crescimento maior a médio prazo. É também uma resposta adequada aos problemas do juro e do câmbio. Se o presidente e os ministros econômicos concentrarem a atenção nesse tema, em sua próxima reunião, o País ganhará.

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