Título: A radicalização dos dois lados deve aumentar
Autor: Gomes, Loide
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Nacional, p. A4

O general Luiz Gonzaga Lessa, ex-presidente do Clube Militar, vê com preocupação a evolução dos acontecimentos em Roraima. Para ele, integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e de outras entidades ligadas à questão indígena já usavam há algum tempo métodos de provocação, ao afirmar, por muitas vezes, que os índios não aceitariam a constituição da reserva Raposa Serra do Sol em áreas não-contínuas.

¿Esse atentado, se foi realmente praticado pelos seguranças dos arrozeiros, criará um enorme problema para eles e repercutirá internacionalmente de forma extremamente negativa, até por causa da informação de indígenas feridos¿, avaliou. ¿O fato é grave e pode complicar uma possível saída pacífica para o conflito.¿

O que o senhor acredita que pode acontecer por causa do confronto na Raposa Serra do Sol?

Os ânimos já estão exaltados e poderão ficar muito mais. A situação, que já era complicada, deve ficar ainda mais difícil. A imprensa vai repercutir a história dos índios feridos e isso deve trazer grandes pressões no Brasil e no exterior contra os arrozeiros. Se a situação ficar ainda mais complicada, até mesmo o Exército terá dificuldades para intervir no conflito.

Então, a situação pode se radicalizar ainda mais?

Sem dúvida. Está acontecendo tudo o que eu temia. Esse tipo de situação não era esperada e a radicalização dos dois lados deve aumentar. O que me pergunto é que, se a Polícia Federal está lá, assim como, ao que parece, a Força Nacional de Segurança, como isso pode acontecer? As forças de segurança estão lá exatamente para evitar que esse tipo de situação ocorra.

Esse conflito na reserva pode tornar-se mais um obstáculo às aspirações dos arrozeiros de continuarem na região?

A situação ficará bem mais complicada. Será politicamente muito difícil para os arrozeiros sustentarem suas pretensões de manter o adiamento da desocupação da reserva, decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos seguranças dos arrozeiros são também indígenas, já que nem todos os índios da região, principalmente os macuxis - grupo maior e bastante aculturado -, são favoráveis à reserva Raposa Serra do Sol. Vejo com muita apreensão o caso e considero que a situação pode, realmente, complicar uma solução pacífica para o caso. Ainda não temos informações suficientes sobre o que realmente ocorreu, mas é extremamente grave.

E do outro lado, o senhor acha que houve provocação?

Sim. Os integrantes do Cimi e de outras organizações têm falado muito que os índios não aceitarão a demarcação em terras não-contínuas. Isso questiona a ação do STF e abre um precedente.

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