Título: Após um ano, apoio a Sarkozy desaba
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Internacional, p. A14

Aprovação de líder francês cai para 38%, nível mais baixo desde que assumiu; romance com Carla acentua queda

Ao ser eleito presidente francês em 2007, mesmo com o voto de 53% da população, Nicolas Sarkozy parecia destinado a ser impopular. A previsão parece ter se concretizado. No primeiro aniversário de sua eleição, comemorado hoje, o líder conservador conta com apoio de apenas um terço da população francesa.

Escolhido para reformar o Estado em um país que não gosta de reformas, seu governo encarou o desafio logo nos primeiros meses: lançou 53 projetos de modernização, todos em trâmite. O único problema é que, aos olhos da opinião pública, as reformas não melhoraram a qualidade de vida.

A prova da insatisfação dos franceses em relação ao homem escolhido para tirar o país da letargia econômica está nos gráficos dos institutos de pesquisa de opinião nos últimos 12 meses. Em todos os seis principais levantamentos, o apoio a Sarkozy é uma curva descendente. Na sexta-feira, uma pesquisa do instituto CSA apontou nova queda na aprovação pública, reduzindo seu índice a 38% - em comparação ao pico de 65% registrado em julho de 2007. O instituto TNS-Sofres aponta um índice de aprovação do presidente ainda menor : 32%.

A nova queda de popularidade é registrada mesmo após a demonstração de humildade de Sarkozy em uma entrevista concedida às emissoras de TV TF1 e France 2 , acompanhada por 11 milhões de espectadores, há 10 dias. Na ocasião, o líder conservador reconheceu cinco vezes os erros de seu governo, além de seus próprios.

¿A autocrítica foi fundamental para renovar o vínculo com os franceses¿, avalia Stéphane Rozès, diretor de pesquisas do CSA, em entrevista ao Estado. ¿Ele criou condições para crescer. Mas depende de seu governo.¿

As principais críticas da população são em relação ao desempenho do governo. Antes defendidas por quase 80% do eleitorado, as promessas de reformas, que vão da legislação trabalhista à supressão de tribunais de Justiça, passando pela liberalização do comércio e dos serviços e pelo redesenho da previdência, vêm sendo questionadas com cada vez mais veemência por sindicatos, estudantes e até trabalhadores ilegais.

O governo vem respondendo com hesitação aos protestos. A cada controvérsia sobre um texto, seus ministros se dividem e recai sobre o presidente a responsabilidade pelas divergências.

Para Sarkozy, uma das maiores dificuldades para reverter a tendência da opinião pública é a conjuntura econômica internacional. Eleito com o mote ¿trabalhar mais para ganhar mais¿, o líder conservador enfrenta a tormenta da crise das hipotecas nos EUA. Atingida pelo aumento dos preços dos combustíveis e da alimentação, a população reclama da ¿ vida cara¿. Resultado: 53% atribuem a degradação do poder de compra às medidas do governo.

Segundo o jornal francês Le Monde, a descoordenação do governo e a insatisfação pública colocam Sarkozy em rota de colisão com seu primeiro-ministro, François Fillon. Ao presidente desagradaria a suposta incapacidade de Fillon em defender as reformas do governo. Fugindo de seu estilo sóbrio e discreto, o primeiro-ministro deixou transparecer o mal-estar em entrevista ao Le Monde: ¿As mensagens do presidente precisam ser repetidas várias vezes para serem compreendidas, mesmo por seus mais próximos colaboradores¿, alfinetou. Apesar de Fillon ainda contar com tolerância limitada de Sarkozy, o líder conservador já teria escolhido um substituto para o cargo: Xavier Bertrand, ministro do Trabalho.

EFEITO CARLA BRUNI

A queda da popularidade coincide com o início da relação de Sarkozy com a ex-modelo e cantora italiana Carla Bruni, poucos meses após ele separar-se da mulher, Cécilia. Desde novembro, o líder francês transformou sua vida privada em um folhetim de audiência mundial que irritou os franceses.

Antes da superexposição de sua vida íntima, Sarkozy tinha 55% de aprovação. Em outubro e novembro, sindicatos lançaram a primeira onda de greves da atual gestão, mas pesquisas de opinião ainda registravam o apoio da opinião pública ao presidente, que defendia o fim do regime especial de aposentadorias que beneficiava parte do funcionalismo público.

O apoio, no entanto, acabou quando a vida pessoal do presidente tornou-se o tema principal na imprensa francesa, e não seu desempenho como chefe de Estado.

Em viagem com Carla ao Egito, Sarkozy foi fotografado em clima de lua-de-mel, reforçando a imagem de que a França não tinha um presidente, mas um astro de reality show cuja vida pessoal era a principal atração. Desde então, a lua-de-mel com a opinião pública chegou ao fim.

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