Título: Saída de Dantas ajuda Ufba, diz diretor
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Vida&, p. A17

Para Tavares Neto, coordenador do colegiado da Faculdade de Medicina era obstáculo à reforma curricular do curso

O diretor da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), José Tavares Neto, acredita que o afastamento do coordenador do colegiado da faculdade, Antonio Natalino Dantas, de 69 anos, vai facilitar a implementação da reforma curricular do curso. ¿Ele se posicionava contra as mudanças que tentamos implantar desde 2005¿, afirma Tavares Neto. ¿A saída dele deve acelerar o processo.¿,

Veja a nota do reitor

Dantas anunciou domingo sua renúncia ao cargo, cinco dias depois de afirmar que estudantes baianos tinham ¿déficit de inteligência¿ quando comparados com os de outros lugares e que o sistema de cotas exerce ¿contaminação¿ entre os universitários. As declarações foram dadas pelo coordenador para justificar o mau rendimento da Famed no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o que levou o curso de Medicina a figurar na lista dos 17 sob supervisão do Ministério da Educação (MEC).

Em nota oficial, Dantas pediu desculpa pelas afirmações - que atribuiu a ¿um estado emocionalmente comprometido¿ e à pressão de jornalistas, que teriam feito perguntas ¿para criar polêmica¿.

Hoje, o Conselho do Colegiado da Famed se reúne para analisar o pedido de afastamento de Dantas. Tavares Neto adianta que a reunião deve confirmar o afastamento do cargo, mas não do quadro de professores - o que deve ocorrer apenas em setembro, quando Dantas completa 70 anos.

ASSEMBLÉIA

Tavares Neto participou ontem de uma assembléia da faculdade. Em pauta, as declarações de Dantas e a baixa nota no Enade.

No encontro, o Diretório Central dos Estudantes da Ufba cobrou da reitoria uma sindicância interna em todas as faculdades da instituição. ¿Queremos encontrar todos os focos de racismo na universidade¿, afirma o diretor do DCE, Emanuel Freire. O pedido foi acatado na assembléia e será apresentado hoje ao reitor Naomar de Almeida Filho.

A nota obtida pela Famed no Enade também dominou os debates. ¿A situação é crítica¿, resume o diretor do Diretório Acadêmico da Famed, Rafael dos Santos Gonçalves. De acordo com ele, muitos estudantes confirmaram ter boicotado o Enade, mas o fato não deve ser usado para ocultar outros problemas da instituição. ¿Temos enorme carência no que se refere à parte prática do curso¿, afirma. ¿O Hospital Universitário não tem condições de absorver os alunos.¿ O diretor da instituição concorda e pleiteia a redução do número de vagas no vestibular enquanto os problemas de infra-estrutura não forem sanados. Hoje, a faculdade admite 60 novos alunos por ano.

Esta semana, a Câmara de Graduação da Ufba, composta por 15 professores e três alunos, começa uma auditoria acadêmica na Famed a pedido do reitor. O principal foco da análise é a possível redução de vagas.

¿A nota do Enade pode ser enganosa, mas precisamos fazer nossa lição de casa para conseguir a qualidade que desejamos¿, diz Tavares Neto. Em nota divulgada ontem, o reitor Naomar de Almeida Filho também culpou o boicote como fator principal para a má avaliação do curso de Medicina, mas se comprometeu a buscar soluções para os problemas da Famed (leia texto ao lado).

PRECONCEITO

O presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues, também participou da assembléia, como forma de protesto contra as declarações do coordenador Dantas - entre as afirmações, o professor disse que o Olodum não fazia música, mas ¿barulho¿.

Rodrigues informou que a nota distribuída pelo professor não muda o pedido de processo contra Dantas, feito pelo grupo ao Ministério Público Estadual, por danos morais. ¿Na nota, ele se retrata com relação ao preconceito racial, mas não se desculpa com o Olodum¿, afirma. ¿Esperamos uma punição exemplar, para que sirva de alerta a outros.¿

O pedido de desculpa feito por Dantas tampouco altera o procedimento administrativo instaurado pelo Ministério Público Federal, na quarta-feira, para apurar se houve conteúdo discriminatório ¿racial ou de procedência¿ nas declarações do professor. ¿Os trabalhos nesse sentido continuam normalmente¿, garante o procurador Vladimir Aras, da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, à frente do processo.

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