Título: Pequena alteração genética aumenta riscos da diabete
Autor: Orsi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Vida&, p. A18

Paciente fica mais propenso a complicações graves, como cegueira

Uma equipe internacional de cientistas descobriu que a troca de uma única letra em um gene responsável pela criação de glóbulos vermelhos no sangue permite identificar pacientes de diabete mais propensos a sofrer de complicações graves da doença, que podem levar à cegueira e à insuficiência renal. O trabalho que descreve a descoberta foi publicado ontem na edição antecipada, online, da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

A mudança genética em questão é a troca de uma base guamina por uma timina - ou ¿G¿ por ¿T¿, no código de quatro letras do DNA, que contém ainda adenina (A) e citosina (C) - em um trecho do gene que codifica a eritropoietina, ou EPO, hormônio que estimula a criação das células vermelhas do sangue e de vasos sanguíneos. Em sua versão mutante, e na presença de diabete, o gene leva a uma produção excessiva de vasos na retina e nos rins, o que causa doença renal crônica e uma condição conhecida como retinopatia diabética proliferativa, que pode levar à cegueira.

O hormônio EPO às vezes é usado como doping, mas segundo um dos autores do trabalho, Kang Zhang, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, a correlação com os danos renais e na retina não vale para os atletas desonestos, pois se aplica ¿principalmente a pacientes de diabete¿.

NO BRASIL

Para ligar a mutação às complicações da diabete, os pesquisadores partiram da suposição de que a doença renal crônica e a retinopatia, quando ocorrem em pessoas diabéticas, deveriam estar ligadas a uma causa genética comum, já que existe uma forte correlação entre ambas.

¿O trabalho é importante porque foi feito numa população grande, de portadores de diabete dos tipos 1 e 2¿, diz a pesquisadora Mirela Azevedo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela faz a ressalva de que a associação não implica relação de causa e efeito, e que o resultado talvez não se aplique a uma população miscigenada como a brasileira, já que o estudo foi feito entre americanos de ascendência européia. ¿Mas pesquisadores brasileiros checarão sua aplicabilidade¿, afirma. A cientista diz que o teste para detectar o gene mutante é simples, e pode ser feito a partir de um exame de sangue. Se o paciente tiver a mutação confirmada, ele poderá receber tratamento diferenciado, explica.

¿A descoberta poderá ajudar na triagem de pacientes com duas cópias do gene mutante¿, diz Zhang. ¿Os resultados deverão chegar aos pacientes dentro de três ou quatro anos, e o bloqueio do EPO será uma terapia muito importante.¿

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