Título: BCs não podem dar folga à inflação, diz Trichet
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2008, Economia, p. B4

Presidente do Banco Central Europeu afirma que alta dos preços deve ser combatida tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes

A inflação é o inimigo a ser combatido pelos presidentes de bancos centrais, seja em países industrializados, seja nos emergentes. A preocupação foi expressa na manhã de ontem, na Basiléia, Suíça, pelo porta-voz do Global Economy Meeting e presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, ao término da reunião das mais importantes autoridades monetárias do mundo. Para ele, a crise imobiliária está menos aguda, mas ¿não é hora de complacência com a inflação¿.

De acordo com o consenso dos presidentes de BCs, incluindo o brasileiro Henrique Meirelles, os mercados agora se comportam melhor diante da crise imobiliária nos Estados Unidos. O desempenho mais estável, afirmou Trichet, se deve em especial às economias emergentes - como China, Índia, Rússia e Brasil.

¿O crescimento global continua significativo, apesar da desaceleração que verificamos em um certo número de países industrializados¿, disse o francês. ¿Claramente, graças à notável resistência de economias emergentes, que continuam com crescimento significativo.¿

Mas o momento ainda é de alerta em relação à pressão inflacionária global. ¿Os riscos inflacionários são significativos e seus efeitos estão sendo sentidos em absolutamente todas as economias, em razão da crise dos preços da energia e, mais amplamente falando, dos preços de commodities, como alimentos e produtos agrícolas¿, argumentou. ¿Não é hora para complacência por parte dos bancos centrais em relação à inflação¿, reforçou, insistindo na declaração, que repetiu com freqüência ao longo da entrevista.

Em parte causa e efeito da pressão inflacionária, a elevação dos preços dos alimentos não foi discutida em detalhes pelas autoridades monetárias. Trichet, porém, afirmou que considera o tema ¿um fenômeno global muito importante¿. Para o presidente do BCE, o aumento do número de habitantes em países emergentes que ingressaram no mercado consumidor é uma das explicações da crise. ¿A procura por cereais, por exemplo, é maior e teve impacto muito significativo na demanda por alimentos e produtos agrícolas.¿

Entretanto, outros fatores, que incluem até transformações climáticas, pesam no ¿complexo sistema de fatores¿ do problema, que Trichet define como ¿um fenômeno de produção e de consumo¿.

No início do encontro com jornalistas, realizado na sala de imprensa do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a principal autoridade monetária européia brincou ao falar sobre a expectativa dos mercados em relação à postura que o BCE deve adotar sobre sua taxa básica de juros. ¿Não tenho nada a declarar sobre a política monetária européia¿, antecipou-se, sorrindo, ao provável questionamento. A reunião na qual o assunto será deliberado ocorre na quinta-feira.

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