Título: Yeda sabia de fraude no Detran, diz ex-secretário
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2008, Nacional, p. A13

Bacci conta a CPI que alertou governadora gaúcha sobre irregularidades no início de 2007

O deputado Enio Bacci (PDT) disse que a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), sabia da existência de irregularidades no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) desde o início do ano passado e não tomou as medidas necessárias para investigar o caso, permitindo que a autarquia continuasse a ser vítima de um golpe praticado por uma organização criminosa. A acusação foi feita ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembléia que investiga o desvio de R$ 44 milhões do órgão.

Bacci foi secretário da Segurança Pública de 1º de janeiro a 11 de abril do ano passado. No relato à CPI, revelou que no primeiro mês de sua gestão percebeu a existência de contratos superfaturados ou não cumpridos e levou a informação à governadora. ¿Eu falei a ela das irregularidades e da necessidade de fazer uma limpa no Detran e propus nomear uma direção suprapartidária para o órgão, com representantes do PDT, PMDB e PSDB, que chamariam a Secretaria da Fazenda para fazer uma auditoria.¿

Segundo Bacci, Yeda ouviu tudo em silêncio e o autorizou a agir. No dia seguinte, no entanto, foi avisado de que o Detran seria transferido para a Secretaria da Administração, o que ocorreu em 9 de fevereiro de 2007. Bacci também sustentou que, posteriormente, Yeda justificou sua atitude como necessária para não perder o apoio do grupo político do ex-secretário de Segurança e hoje deputado José Otávio Germano (PP). Em 11 de abril do ano passado Bacci foi demitido e voltou ao Congresso.

O ex-secretário ressalvou que os indícios de irregularidades que apontou à época se referiam a contratos de serviços de limpeza e segurança superfaturados e não à fraude que a Polícia Federal descobriria em novembro, na Operação Rodin, que apontou o desvio de R$ 44 milhões a partir de pagamentos superfaturados a empresas que, por sua vez, retribuíam com propinas a diretores da autarquia. Mas deu a entender que a auditoria que iria fazer teria descoberto todas as fraudes.

Segundo o governo do Estado, Bacci nunca apresentou uma denúncia por escrito. Também acusou o deputado de demorar a expor suas acusações até ter um fórum político como a CPI para partidarizar o assunto. O deputado, contudo, sustentou que não havia necessidade de comunicado formal para que a investigação fosse feita.

O então chefe da Casa Civil e atual secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Luiz Fernando Zachia (PMDB), participou das reuniões que Yeda fez com Bacci e disse que ele estava autorizado a averiguar o que havia de errado no Detran. Afirmou, também, que a determinação de tirar o Detran da Secretaria da Segurança Pública era conhecida de toda a equipe de governo, inclusive de Bacci.

O vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Afonso Feijó (DEM), se disse disposto a depor na CPI sobre o assunto.