Título: EUA querem saúde como barreira
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2008, Economia, p. B11

Para governo Bush, países sem `padrão americano¿ de saúde e qualidade terão dificuldades de vender produtos

O Brasil e outros países exportadores de commodities precisam ser preparar para enfrentar novas barreiras comerciais. O governo do presidente George W. Bush alerta que países que não tenham um ¿padrão de saúde e de qualidade americano¿ em seus produtos terão dificuldades para ter acesso ao mercado dos Estados Unidos.

¿O mercado vai sancionar com dureza quem não tiver qualidade e segurança¿, disse. ¿Precisamos de um modelo de certificação para todas os produtos para garantir sua segurança. Essa será a nova fronteira da produtividade e será necessário para quem quiser ter sucesso no mercado global¿, disse o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Mike Leavitt, que ontem defendeu na ONU uma relação mais estreita entre comércio e saúde.

¿Estamos importando produtos de 825 mil estabelecimentos em todo o mundo por 300 portos de entradas. Trata-se de US$ 2 bilhões em importações, um volume do tamanho da economia da França. Não podemos controlar todo esse volume nas fronteiras e precisamos de um novo mecanismo de controle.¿

O discurso é considerado pelo Itamaraty uma clara demonstração de que as barreiras que os países adotarão contra os produtos nacionais não serão tarifas ou cotas, mas sim exigências técnicas.

¿Num futuro muito próximo, os países exportadores de commodities terão duas opões. Ou aceitam processos de certificação independente sobre seus produtos ou terão dificuldades¿, disse o secretário ao Estado. Para ele, um dos setores que será cada vez mais fiscalizado é o de carnes. O Brasil já sofre para vender à Europa e, no mercado americano, as carnes nacionais estão embargadas há anos.

¿Estamos vivendo um novo desafio. Precisamos controlar o padrão de saúde dos produtos. Mas não podemos parar o comércio internacional. Por isso, a solução seria chegar a um acordo sobre padrões que possam ser verificados¿, afirmou.

Na prática, ele coloca em questão todo o sistema da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de acordos em vigor no setor sanitário. ¿Com o mercado global que existe hoje, há sinais claros que o sistema para garantir a segurança dos produtos não é adequado.¿ Leavitt levou a questão ontem à Organização Mundial da Saúde, assustando governos de países em desenvolvimento, que temem novas barreiras ao comércio.

¿O que estamos dizendo ao mundo é que queremos que outros países tenham acesso a nosso mercado. Mas, para isso, precisam respeitar um padrão¿, disse o americano, lembrando que só a Índia tem 9 mil empresas que exportam aos Estados Unidos.