Título: Com Unasul, Brasil quer estabilidade entre vizinhos
Autor: Nogueira, Rui Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2008, Nacional, p. A4
País foi o principal patrocinador da criação de entidade alternativa à OEA
Engendrada sobretudo pelo Itamaraty, a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) reflete o interesse do Brasil em estimular o desenvolvimento econômico e a estabilidade no entorno sul-americano. Como retorno, o ambiente pacífico na sua área de influência direta permitiria ao governo brasileiro consolidar-se como ator no cenário mundial.
¿O Brasil não terá uma presença maior nos foros internacionais se estiver preso a uma América do Sul instável¿, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, diante dos senadores e dos deputados que atuam no Parlamento do Mercosul. ¿Generosidade não é ser bonzinho. É ter uma visão do interesse nacional de longo prazo e uma ação que passa mais pela cooperação que pela confrontação¿, completou.
Em caráter extraordinário, a reunião dos 12 chefes de Estado da Unasul, hoje em Brasília, terá o objetivo de pôr em funcionamento a estrutura institucional da entidade, de criar o Conselho de Defesa da América do Sul e de aprovar seu plano de ação em cinco diferentes áreas - integração comercial e produtiva, mecanismos de financiamento, cooperação cultural, infra-estrutura e energia.
O Conselho Energético Sul-americano, criado no ano passado, será incorporado à Unasul. O ponto de partida será a assinatura do tratado constitutivo da entidade, documento que está pronto há quatro meses e que não foi firmado antes por causa do clima de animosidade entre a Colômbia e o Equador.
¿Uma institucionalidade está sendo criada¿, acentuou Amorim. ¿Depois do Mercosul, esse é o primeiro tratado que cria uma organização de vários países na América do Sul. Portanto, não é apenas uma declaração política que pode ser seguida um dia e, no outro, não ser seguida.¿
O tratado que será assinado hoje prevê a criação de um Parlamento Sul-americano. Mas não em curto prazo. As pressões em favor desse passo a mais na institucionalidade do novo bloco, vindas da trinca Bolívia-Venezuela-Equador, foram contornadas ainda na fase de negociação. O documento determina a criação de uma comissão especial para tratar do assunto.
O encontro de hoje abrirá uma janela para que os atuais atritos entre a Venezuela e ao Colômbia e os futuros dilemas entre os governos da região sejam contornados no próprio espaço sul-americano.
Será, portanto, uma espécie de contraponto doméstico para os mecanismos de solução de conflitos hoje existentes, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Grupo do Rio, que contam com países da América Central e do Norte entre seus membros.
¿A Unasul é o espaço adequado para tratar desses temas, seguramente¿, afirmou Amorim, ao final de uma exposição à Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, no Senado, ao ser questionado se essa agremiação seria o canal adequado para a solução dos freqüentes dilemas entre a Colômbia e a Venezuela.
FRASES
Celso Amorim Ministro das Relações Exteriores
¿Generosidade não é ser bonzinho. É ter uma visão do interesse nacional de longo prazo e uma ação que passa mais pela cooperação que pela confrontação¿
¿Uma institucionalidade está sendo criada¿