Título: Mercadante é contra o fundo soberano agora
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2008, Economia, p. B4

Senador petista acha que momento não é oportuno para o lançamento, por causa da inflação, e defende o aumento do superávit primário

O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ontem que o momento não é oportuno para a criação do Fundo Soberano do Brasil (FSB). ¿O importante é aumentar o superávit primário do setor público e auxiliar o Banco Central no combate à inflação¿, afirmou Mercadante em entrevista ao Estado.

O senador petista, um dos principais representantes do ¿grupo desenvolvimentista¿ do governo, considera que o Fundo Soberano é um ¿instrumento auxiliar¿ importante para que o governo encontre a taxa de câmbio de equilíbrio. Com os recursos do Fundo, o Tesouro poderia comprar dólares no mercado interno e evitar a valorização ainda maior do real.

Mas neste momento, argumenta Mercadante, a tarefa importante é amortecer o choque inflacionário que vem do exterior. ¿Temos um choque de grandes proporções.¿ O senador lembrou que a queda da cotação do dólar ainda é a principal âncora da economia.

Usar os recursos do Fundo Soberano e comprar dólares no mercado interno e evitar uma maior apreciação do real poderá ajudar o desempenho das exportações brasileiras, mas prejudicará o combate à inflação, segundo análise do senador. ¿A questão do déficit das contas externas tem que ser vista no médio prazo. Neste momento, o essencial é combater a inflação.¿

O choque externo de preços está sendo amplificado, segundo Mercadante, pelo forte crescimento do consumo das famílias (acima de 8%), pela expansão acelerada do crédito, pelo aumento do emprego e da massa salarial. ¿Neste cenário, a melhor alternativa é elevar o superávit primário do setor público¿, disse.

O superávit primário é a economia que o setor público faz para pagar uma parcela dos juros de suas dívidas. Para este ano, está previsto em 3,80% do Produto Interno Bruto (PIB), ou algo como R$ 108 bilhões. Mercadante prefere não dizer qual é o aumento que defende. ¿Esta é outra questão. O importante é mostrar a necessidade de elevar o superávit primário para coordenar melhor as políticas fiscal e monetária.¿

Superávit primário maior, segundo ele, auxiliará o Banco Central no controle da inflação, pois ajudará na redução da demanda. ¿A idéia é que pode aliviar a sobrecarga da política monetária, ou seja, permitir que o Banco Central não eleve tanto os juros¿, explicou.

Mercadante participa das reuniões que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza mensalmente no Palácio do Planalto com economistas de fora do governo. A elevação do superávit primário dos atuais 3,8% para 5% do PIB foi defendida recentemente pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, durante reunião com o presidente. Proposta apoiada também pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, outro participante desses encontros. que também é contrário à criação do Fundo Soberano.

Links Patrocinados