Título: Base aliada impede acareação na CPI
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2008, Nacional, p. A7

Governistas ainda tiveram ajuda da oposição, que não garantiu quórum

Uma manobra do governo na CPI dos Cartões Corporativos impediu ontem a votação de requerimento de acareação entre José Aparecido Nunes Pires, ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, com André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Aparecido enviou dossiê com gastos reservados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para Fernandes. Os governistas esvaziaram a sessão, evitando dar quórum para que o requerimento fosse votado. Contaram com a ajuda de parlamentares de oposição que, na véspera do feriado de Corpus Christi, não compareceram ou chegaram atrasados à sessão da comissão de inquérito.

A debandada resultou numa espécie de eutanásia da CPI dos Cartões, que terá seu fim acelerado. A presidente da comissão, Marisa Serrano (PSDB-MS), marcou uma sessão para a próxima terça-feira, dia 27, para votação de requerimentos de convocação de supostos envolvidos na confecção do dossiê sobre FHC.

Mas o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), avisou que apresentará seu relatório final no dia 29. Ele argumentou que as investigações sobre o dossiê são da esfera da Polícia Federal. ¿Não acredito que a CPI seja mais eficiente do que a polícia¿, afirmou o petista.

O deputado Carlos Willian (PTC-MG) apresentou ontem requerimento para encerrar os trabalhos da CPI na próxima semana. ¿Não existe a mínima possibilidade de uma CPI capenga como essa continuar¿, disse.

O desfecho da CPI - caso nenhum fato novo surja no cenário capaz de injetar combustível na comissão - tira dos holofotes a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Superiora hierárquica dos servidores envolvidos na montagem do dossiê, a ministra, protegida pela base aliada e pelo depoimento evasivo de Aparecido, poderá sair de cena com o capital político de pré-candidata a 2010 preservado.

Ontem, seguindo o enredo do Planalto, de esvaziamento da crise, a base aliada, para não dar quórum, pediu a seus parlamentares para não aparecer na CPI. Desavisado, o deputado Nilson Mourão (PT-AC) chegou a entrar na sala da comissão de inquérito, mas saiu rapidamente depois de ser orientado por aliados a ir embora. Nem mesmo os parlamentares inscritos para continuar a argüição de José Aparecido, que havia sido suspensa na véspera, compareceram ontem. ¿É véspera de feriado e por isso a sessão ficou esvaziada¿, justificou Marisa Serrano. ¿Houve uma soma de interesses do governo em concluir a inquirição do José Aparecido e da oposição de não votar hoje a acareação¿, disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Marisa Serrano esperou 20 minutos para que fosse atingido o quórum mínimo de oito parlamentares para a abertura da sessão da CPI. No momento em que encerrava a sessão, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), um dos quatro inscritos para inquirir Aparecido, entrou na sala, onde já estavam outros sete parlamentares. Mesmo assim, a senadora preferiu marcar uma nova reunião para a próxima terça-feira.

Parlamentares de oposição tentaram justificar seu atraso sob a alegação de que, como iriam perder a votação do requerimento de acareação, resolveram não aparecer para não dar quórum. ¿Íamos perder se colocássemos em votação o requerimento. Por isso foi melhor não ter sessão do que fazer e perder de afogadilho¿, disse o deputado Índio da Costa (DEM-RJ).

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