Título: Indicadores apontam perda de dinamismo
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2008, Economia, p. B3

Expectativa de produção dos empresários da indústria para o segundo trimestre caiu 9% entre janeiro e abril

O menor dinamismo da atividade econômica esperado para este trimestre já apareceu nos resultados de sondagens feitas com empresários da indústria e com consumidores - a base e a ponta da cadeia de produção e consumo, respectivamente.

O indicador de expectativa de produção para este trimestre dos empresários da indústria caiu 9% entre janeiro e abril, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A queda nas expectativas da produção prevista ocorreu porque diminuiu, de 43,8% para 39,8%, o número de empresas que esperam aumentar a produção no trimestre. Em contrapartida, quase dobrou, de 9% para 17,1%, a quantidade de companhias que acreditam numa redução da sua atividade no mesmo período.

A sondagem da FGV, de âmbito nacional, consultou 1.021 empresas no mês passado. Juntas, essas companhias faturam R$ 535,4 bilhões por ano.

A deterioração nas expectativas de produção prevista para este trimestre ocorreu por causa da redução nos prognósticos da demanda externa. O índice de expectativas de exportações, que estava em 111,3 pontos em janeiro, fechou abril em 102,9 pontos, descontados efeitos típicos desta época do ano.

¿A demanda interna está forte, mas a externa está se enfraquecendo. É por esse canal que vem a desaceleração da atividade¿, diz o coordenador da sondagem da FGV, Aloisio Campelo.

Outro dado da pesquisa que confirma a mudança de cenário e que a produção da indústria terá um crescimento relativamente modesto neste trimestre é o indicador de empresas com nível de estoques considerados insuficientes. No início do primeiro trimestre, 10,9% das companhias se declaravam nessa condição. No mês passado, 6,3% das empresas consideravam seus estoques insuficientes para atender à demanda. O resultado, com ajuste sazonal, é o menor desde abril de 2007.

Com base nos dados da sondagem industrial e outros indicadores antecedentes, a LCA Consultores estima para este trimestre que a produção industrial aumente algo em torno de 1% ante o primeiro trimestre, já com ajuste sazonal. Se a previsão se confirmar, haverá redução no dinamismo da indústria na comparação com o ano passado, diz o economista da consultoria Everton dos Santos.

O ritmo médio de crescimento da indústria em 2007 por trimestre, descontados efeitos sazonais, foi de 1,9%, que, anualizado, resultou numa taxa de 7,8%. Caso a projeção de crescimento de 1% se confirme, o ritmo de crescimento anual será bem menor, em torno de 4%. ¿Isso confirma a perda de fôlego em relação a 2007¿, diz Santos. Além da demanda externa mais fraca, o economista argumenta que, depois das altas de juros e da elevação da inflação, puxada pela disparada dos preços dos alimentos, a demanda interna também deve perder fôlego.

O economista usa a perda de poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica como argumento para sustentar a tese do enfraquecimento da demanda interna. Nas suas contas, em 12 meses até abril, o poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica acumula perda 6,6%. Novembro foi o último mês e que o índice acumulado em 12 meses teve variação positiva.

A corrosão do salário mínimo pela elevação do preço dos alimentos da cesta básica desde o fim de 2007 deve, segundo o economista, afetar as expectativas de compras de bens duráveis. Pesquisa nacional feita pelo Instituto Ipsos Public Affairs para a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para avaliar a confiança do consumidor mostra que diminuiu a disposição do brasileiro de comprar bens de maior valor. Caiu de 36% em março para 33% em abril a fatia dos que se sentem muito mais à vontade para comprar um bem de grande valor, como carro ou a casa própria, comparando com seis meses atrás. ¿Esse é um sinal de alerta¿, diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Segundo ele, isso já reflete a alta dos juros para o consumidor que ocorreu antes mesmo de o Banco Central ter elevado a taxa básica.

A pesquisa mostra também que, pelo segundo mês consecutivo, sobra menos dinheiro no bolso do brasileiro para gastar, depois de pagar todas as despesas. Em março, a renda disponível era de R$ 75 e caiu para R$ 70 em abril. ¿Está sobrando menos no bolso do consumidor por causa da inflação dos alimentos¿, diz Alfieri.

É exatamente essa disponibilidade menor que provoca uma acomodação das vendas do comércio. As consultas para vendas a prazo da ACSP registraram na primeira quinzena deste mês crescimento de 6,2% em relação a igual período de 2007. Até abril a taxa de crescimento no ano era de 7,8%.

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