Título: Juro alto e impostos impedem expansão
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2008, Economia, p. B4

Estudo da Fiesp aponta dificuldades no plano de incentivo à indústria

Duas grandes metas estabelecidas no programa de incentivo à indústria, denominado Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), dificilmente serão alcançadas até 2010. Uma é ampliar os investimentos de 17,6% para 21% do Produto Interno Bruto (PIB) e a outra, expandir a participação do Brasil nas exportações mundiais de 1,18% para 1,25%. É o que indica estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), obtido pelo Estado.

De acordo com o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da entidade, José Ricardo Roriz Coelho, a combinação de carga tributária elevada, juros em alta e câmbio ¿derretendo¿ tende a inviabilizar as metas definidas pelo governo. ¿Nossas projeções mostram que a taxa de investimentos não deverá passar de 19%¿, diz.

Pelo estudo da Fiesp, a destinação de R$ 210,4 bilhões do orçamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiamentos à indústria e serviços, como prevê a nova política industrial, fará a participação do banco nos investimentos totais da economia crescer de 3,9%, registrados no período de 2003 a 2007, para 8,8%, até o fim do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o que representa um salto de 126%. Para atingir 21% do PIB, segundo a entidade, os investimentos fora do BNDES precisariam crescer em um ritmo ainda maior.

¿A gente considerou que o BNDES vai alavancar sua participação nos investimentos e que os outros vão acompanhar no mesmo ritmo¿, explica Roriz Coelho. Para ele, a velocidade dos investimentos com recursos de outras fontes de financiamento vai depender da evolução da situação macroeconômica. ¿Hoje, já está ruim, mas pode piorar, dadas as projeções de alta nos juros e de desvalorização do dólar em relação ao real.¿

Na avaliação da diretor da Fiesp, as medidas de incentivo a investimentos previstas na Política de Desenvolvimento Produtivo são positivas , o plano é muito bem fundamentado e o seu processo de gestão é muito melhor em relação ao da política industrial do primeiro mandato do presidente Lula. Apesar disso, ele ressalta que setores que ficaram de fora e, mesmo alguns que foram incluídos, podem investir menos, por causa da atual política macroeconômica.

¿Os juros altos aumentam o custo de capital, enquanto a carga tributária representa transferência de renda do setor privado para o governo, o que diminui os recursos para investimentos¿, afirma o executivo. ¿Para completar, o dólar fraco reduz as exportações e as vendas no mercado interno, já que tira competitividade do produto brasileiro e favorece as importações.¿

Tanto é assim que as projeções da Fiesp indicam que a participação do Brasil nas exportações mundiais, que no ano passado atingiu 1,18%, tende a recuar para apenas 1,06%, em 2010, contrariando a meta do governo, que prevê avanço para 1,25%.

Não por acaso, a entidade estima que o saldo da balança comercial do País (exportações menos importações) pode ficar negativo a partir de 2009. ¿Aumentar exportações com esse câmbio é uma missão praticamente impossível¿, afirma Roriz Coelho.

METAS POSSÍVEIS

Para a Fiesp, a meta de aumentar em 10% o número de pequenas e microempresas exportadoras é fácil de ser ultrapassado. ¿Basta manter a média de crescimento de 6,6% dos últimos anos para alcançarmos 15,2 mil empresas desse segmento em 2010¿, afirma Roriz Coelho. Há dois anos, havia 11,79 mil pequenas e microempresas brasileiras exportadoras. Pela meta proposta pelo governo na PDP, esse número seria ampliado para 12.971 empresas.

A entidade também considera factível alcançar a meta de elevação do gasto privado em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D) de 0,51% do PIB (R$ 11,9 bilhões) para 0,65% (R$ 18,2 bilhões) até o fim do atual governo. Entre 2000 e 2005, a taxa de investimentos privados em P&D em relação ao Produto Interno Bruto cresceu 46%, a uma média anual de 11,9%. ¿Com base nesses valores históricos é possível crescer 30% até 2010, a uma taxa de 9,8% ao ano¿, argumenta o diretor da Fiesp.

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