Título: BC manterá a inflação na meta
Autor: Figueiredo, Odail
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2008, Economia, p. B6

Meirelles também descarta mexer nos compulsórios dos bancos

O Banco Central vai continuar trabalhando para manter a inflação na meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5% para este ano e 2009. A afirmação foi feita pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, em entrevista à Agência Brasil, órgão oficial do governo.

¿Os agentes econômicos devem ter confiança de que o Banco Central vai entregar uma inflação consistente com a trajetória de metas¿, disse Meirelles. ¿A Nação pode estar tranqüila de que o Banco Central vai manter a inflação na meta.¿

Nas últimas semanas, a subida da inflação, derivada da alta dos preços internacionais dos alimentos e do petróleo motivou setores do governo a sugerir que o BC explicitasse que iria perseguir uma inflação ligeiramente maior do que a meta, na casa dos 5%, como mostrou o Estado, em reportagem publicada na última quarta-feira.

O raciocínio por trás dessa proposta é o de que, como a inflação sobe por causa de um ¿choque de oferta¿, a elevação dos juros pelo BC teria pouca eficácia para conter os preços. A alta dos juros, no entanto, reduziria o crescimento econômico, o que seria um custo alto a pagar por resultados quase nulos em termos de controle inflacionário.

A análise de Meirelles, porém, vai em outra direção. Ele afirma que a inflação não está concentrada em alimentos, mas tem um grau bastante grande de difusão, espalhando-se por matérias-primas, metais, produtos químicos, petróleo e serviços. Além disso, a economia aquecida gera risco de que os fortes aumentos de preços no atacado sejam repassados para o varejo.

METAS

O presidente do BC disse ainda desconhecer qualquer discussão, no governo, para alterar a meta de 4,5%, adotando-se uma ¿meta ajustada de inflação¿, como já foi feito em anos anteriores.

Segundo ele, na sua próxima reunião, o CMN vai discutir a meta para 2010. ¿Não existe, ao que eu saiba, qualquer agendamento para uma mudança: ou seja, a meta para 2008 e 2009 está fixada e nós vamos fixar a meta para 2010.¿

A política de metas de inflação deixa margem de tolerância de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo, ou seja, a meta deste ano será considerada cumprida mesmo se inflação for a 6,5%.

Na entrevista, Meirelles deixa claro, porém, qual é o foco do BC. ¿ Usando a analogia do tiro ao alvo, o Banco Central sempre mira na meta. Depois do tiro disparado, pode haver um vento forte que desvie um pouquinho a bala. Mas a próxima bala vai ser de novo atirada em direção à meta¿, disse.

JUROS

Meirelles disse que o BC agiu a tempo para conter as pressões inflacionárias, numa referência à elevação dos juros promovida em abril. E indicou que os juros podem subir novamente. ¿O Banco Central agiu a tempo e a hora e está agindo e está preparado para continuar a agir. Portanto, a Nação pode estar tranqüila de que o Banco Central vai manter a inflação na meta¿, afirmou.

Ele descartou o aumento do depósito compulsório dos bancos junto ao BC, medida que vem sendo sugerido por alguns economistas para reduzir o descompasso entre oferta e demanda. Para Meirelles, no Brasil os compulsórios já estão muito acima da média praticada em outros países, e a taxa de juros é o instrumento mais adequado para manter a demanda sob controle.

¿A taxa de juros, juntamente com o sistema de metas de inflação, tem se revelado no mundo todo como o mecanismo mais adequado para a aplicação da política monetária¿, ressaltou.

SUPERÁVIT

Apesar de ressaltar a importância da política monetária, Meirelles considerou que uma eventual elevação do superávit primário do governo (a economia feita para garantir o pagamento de compromissos financeiros) ajudaria a tarefa do BC, na medida em que possibilitaria reduzir a dívida pública mais rapidamente, o que tenderia a baixar as taxas de juros a longo prazo. Mas essa decisão, salientou, não cabe ao BC, mas ao presidente da República e ao Congresso, ao definirem as prioridades da política de gastos públicos.

Na entrevista, Meirelles respondeu ainda aos críticos da política monetária, que consideravam exagerada a preocupação do BC com a inflação e contestaram a retomada do ciclo de elevação de juros no mês passado. Para ele, os últimos dados de inflação confirmaram que o BC estava certo e os críticos, errados. ¿Na medida que antes estavam, talvez, eufóricos, hoje estão próximos do pânico¿, disse ele.

FRASES

Henrique Meirelles Presidente do BC

¿Não existe, ao que eu saiba, qualquer agendamento para uma mudança: ou seja, a meta para 2008 e 2009 está fixada e nós vamos fixar a meta para 2010¿

¿Usando a analogia do tiro ao alvo, o Banco Central sempre mira na meta. Depois do tiro disparado, pode haver um vento forte que desvie um pouquinho a bala. Mas a próxima bala vai ser de novo atirada em direção à meta¿

¿A taxa de juros, juntamente com o sistema de metas de inflação, tem se revelado no mundo todo como o mecanismo mais adequado para a aplicação da política monetária¿

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