Título: Criação do fundo soberano é equívoco, dizem economistas
Autor: Pereira, Renée; Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2008, Economia, p. B4

Natan Blanche, da Tendências, diz que o `governo quis reinventar a roda¿

O Fundo Soberano do Brasil (FSB), anunciado na terça-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi considerado um equívoco por alguns economistas. ¿O objetivo é nobre, mas a forma para consegui-lo não é a mais eficiente¿, avalia o economista da MB Associados, Sérgio Vale.

Segundo ele, a situação fiscal do Brasil não é tão confortável para sair comprando dólar no mercado com o objetivo de financiar empresas no exterior, o que tende a aumentar o endividamento do País. ¿Além disso, o BNDES já tem uma linha de crédito com taxas baixas para essa finalidade¿, diz Vale.

Na avaliação do sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, Nathan Blanche, o governo quis reinventar a roda com a criação do fundo. ¿Tanto a nova política cambial quanto a criação do fundo soberano são medidas esdrúxulas, que lembram a década perdida (de 80) do nacional desenvolvimentismo com o espírito cepalino.¿

Para o executivo, o governo está inventando outro nome para uma política setorial. ¿O governo está escolhendo para quem dar o dinheiro nas mesmas condições de um banco privado. Isso é péssimo para o País.¿

O certo, diz Blanche, seria avaliar cada empresa, ver sua capacidade de pagamento e aí, sim, financiá-la. Outro argumento do economista é que, se o fundo der certo, as empresas vão exportar mais e trazer mais dólares para o País. Isso significa valorização do real, o oposto do objetivo do fundo soberano.

Para o conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo Roberto Troster, o FSB é um mecanismo para subsidiar os ricos. ¿Em vez de focar a atenção nesse tipo de medida, o governo deveria se concentrar em reformas mais importantes para o País, como a tributária, e a melhora da infra-estrutura brasileira. Estão perdendo tempo, sendo ineficientes.¿

Nathan Blanche continua: ¿O que o Brasil precisa fazer para não perder o selo de investment grade é não fazer bobagem.¿

O economista da RC Consultores Paulo Rabello de Castro também considera a idéia equivocada. Segundo ele, o País não atende a nenhuma das duas condições para se constituir um fundo soberano. Primeiro porque nos próximos meses o Brasil já poderá estar entrando em terreno negativo, com déficit da balança de pagamentos.

Segundo, explica ele, porque o País não só tem déficits crônicos, apesar do superávit primário, como tem uma dívida mobiliária reconhecida extremamente onerosa e mau composta.

¿Portanto, o Brasil só poderia constituir, neste momento, um fundo soberano de cabeça para baixo. Ou seja, que faz a obtenção de recursos de forma onerosa como está sendo feito, colocando dívida pública para recolher os reais necessários à compra dos dólares que vão constituir o fundo soberano e depois aplicar da melhor maneira possível.¿

Essa melhor maneira possível, segundo ele, é aplicar em empresas brasileiras que não necessariamente darão segurança e rentabilidade à boa administração do fundo.

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