Título: Anúncio do fundo surpreende Bernardo
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2008, Economia, p. B4

Destinação de 0,5% do PIB anunciada por Mantega pega ministro do Planejamento de surpresa

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foi surpreendido ontem ao saber, por jornalistas, que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia anunciado o compromisso de promover uma poupança fiscal de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para a composição do fundo soberano. Pouco antes, em palestra durante almoço na Câmara de Comércio Americana, no Rio, Bernardo tinha sido questionado se o governo elevaria a meta de superávit primário de 3,8% do PIB. ¿Não temos ainda essa decisão, nenhuma resolução sobre isso¿, afirmou.

Logo depois, em entrevista, foi informado pelos jornalistas de que Mantega já havia anunciado a decisão sobre a composição do fundo soberano. Bernardo afirmou que a medida é ¿um sacrifício, sim, mas é um sacrifício importante¿. O ministro então declarou que isso reforça o compromisso do governo com a área fiscal. ¿Achamos importante reduzir a dívida como proporção do PIB.¿

Ele afirmou que a demanda do governo seria reduzida e lembrou que no primeiro quadrimestre o governo conseguiu superávit nominal, fato inédito para o período. Mas não chegou a projetar superávit para este ano. ¿Nossa expectativa é zerar o déficit nominal até 2010.¿

Depois, quando um repórter informou que Mantega teria anunciado que o fundo soberano seria de R$ 13 bilhões (o equivalente à poupança fiscal extra), Bernardo disse que estava sabendo da notícia naquele momento, pelos jornalistas. Mudou então de atitude: ¿Não posso comentar o que não vi¿, declarou, sobre a entrevista de Mantega.

A área de comunicação do Ministério do Planejamento não estava informada de que Mantega faria o anúncio ontem, àquela hora. Bernardo disse ainda que o problema da desvalorização do dólar é mundial. Mas ressalvou que há análises de que a cotação do real já estaria ¿perto do teto¿.

DÉFICIT

Bernardo afirmou ainda que os investimentos produtivos são bem-vindos. ¿Com o investment grade, tem muita gente prevendo uma enxurrada de dólares. Eu até brinquei outro dia, que vi um chuvisqueiro até agora¿, disse o ministro, respondendo a uma pergunta sobre se a entrada de capital não levará a uma valorização ainda maior do real, apesar do déficit em conta corrente.

Em entrevista na noite da quinta-feira ao Estado, Bernardo respondeu em tom irônico à recomendação do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore e de outros economistas, de que o governo deveria conter gastos para não elevar demais o déficit em conta corrente.

¿Quem sou eu para brigar com o Pastore¿, disse. ¿O déficit em conta corrente está aumentando porque o real está muito apreciado.¿ Ele defendeu o regime de câmbio flutuante e declarou não ver grandes problemas no déficit em conta corrente, que acumula US$ 14 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, mais do que os US$ 12 bilhões previstos pelo Banco Central para todo o ano de 2008.

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