Título: Lula: Inflação terá remédio amargo
Autor: Nossa, Leonencio; Lacerda, Ângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2008, Economia, p. B8

Presidente garante que governo fará o sacríficio que tiver de ser feito para manter uma política fiscal responsável

Às vésperas de mais uma reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, e no mesmo dia em que o governo anunciou que vai aumentar a economia de recursos do orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou, ontem, que usará ¿remédio amargo¿, se for preciso, para evitar a volta da inflação. ¿Estejam certos de que nós, no governo, vamos fazer o sacrifício que tivermos de fazer para manter uma política fiscal responsável, e não vamos gastar aquilo que não temos¿, disse ele,em discurso no 1º Fórum dos Governadores da Amazônia Legal.

De improviso, Lula lembrou que, no passado, tinha de abrir a boca do filho caçula para dar remédio amargo. ¿Ele chorava, mas eu dava porque sabia que era necessário¿, contou. ¿Se a inflação voltar, ela vai quebrar o bolso do povo pobre e trabalhador¿, completou. ¿A gente não vai jogar o dinheiro fora, pois o Brasil precisa de 15 ou 20 anos de desenvolvimento sustentável para que a gente se transforme numa economia grande e definitivamente saudável.¿

O presidente, porém, não disse qual seria o ¿remédio amargo¿. Ele se limitou a dizer que a inflação é algo que o preocupa há pelo menos 40 anos. ¿Estejam certos de que a inflação não voltará a nos criar problemas, e vamos fazer o necessário para controlá-la.¿

Além de governadores, cerca de 1.200 pessoas, a maioria ligada ao PT paraense, participaram do evento, num centro de convenções de Belém. ¿O nosso papel é manter um certo equilíbrio sobre aquilo que o povo pode comprar e as empresas podem produzir¿, afirmou. ¿Podem olhar para a minha cara: este país não vai voltar a ter recessão e desemprego.¿

O presidente avaliou que, mesmo diante da ameaça do aumento de preços, o Brasil vive um ¿momento de ouro¿. ¿Temos uma reserva de US$ 200 bilhões¿, observou. ¿Teve uma crise nos Estados Unidos e na União Européia, bilhões de dólares dançaram na ciranda financeira, e nós estamos tranqüilos.¿

Participaram do encontro os governadores Ana Júlia Carepa (Pará), Blairo Maggi (Mato Grosso), Jackson Lago (Maranhão), Binho Marques (Acre), José de Anchieta (Roraima), Waldez Góes (Amapá) e Marcelo Miranda (Tocantins). Ivo Cassol (Rondônia) alegou problemas particulares para não participar. Eduardo Braga (Amazonas), outro ausente, chegou a entrar no avião rumo a Belém, mas passou mal e desistiu da viagem, segundo assessores.

Lula aproveitou para comentar a descoberta de mais um poço de petróleo no litoral brasileiro e a decisão da agência Fitch, que promoveu o País ao grau de investimento. Ele comparou o Brasil a uma pessoa que encontra crédito fácil numa loja. O presidente ironizou adversários ao afirmar que era mesmo um homem de ¿sorte¿. ¿Tudo isso é sorte, mas se a gente não tivesse trabalhado duro para arrumar a economia e controlar a inflação, não estaríamos nesta situação.¿

¿Muitos companheiros até pensaram em sair do PT (por causa de ajustes econômicos feitos em 2003)¿, completou. ¿Não fiz nada mais do que faço na minha casa, no casamento com dona Marisa. Só gasto o que tenho.¿ Após a reunião, o presidente focou a questão de um possível aumento de preços no setor de alimentos. Em entrevista antes de embarcar para Roma, onde participará de uma conferência das Nações Unidas sobre segurança alimentar, disse que o Brasil e outros países da América Latina podem aumentar a produção de alimentos e evitar o agravamento da crise do desabastecimento, que já atinge alguns países.