Título: Meirelles diz ao PT que política monetária é 'de esquerda'
Autor: Gandour, Ricardo; Rabelo, João Bosco
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2008, Economia, p. B5

Para presidente do BC, política monetária frouxa é `política de direita¿

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, definiu sua política monetária como ¿de esquerda¿ a uma delegação do PT que o procurou ontem para municiar-se de argumentos capazes de responder aos questionamentos de suas bases eleitorais quanto ao aumento das taxas de juros. Meirelles se inspirou em pronunciamento do senador Jefferson Peres (PDT-AM), recentemente falecido, no qual afirmou que ¿política monetária frouxa é política monetária de direita, porque corrói o salário do trabalhador¿. Segundo o presidente do BC, os dados de aumento de consumo da família brasileira e a transferência de parte das classes D e E para a classe C, mostram que a inflação foi derrotada pela política monetária aplicada, com efeito direto e positivo na renda do povo.

Os parlamentares assistiram a uma exposição minuciosa do momento econômico do País, com dados que explicam o comportamento do BC criticado pelo mercado e pela própria base aliada do governo Lula. Ele retrocedeu aos anos 70, do primeiro choque dos preços do petróleo aos dias de hoje, para explicar erros e acertos de países que reagiram de formas diferentes às crises mundiais.

Nesse contexto, mencionou que as políticas monetárias mais duras e os ajustes mais amargos que recuperaram economias em crise foram aplicadas por governos de esquerda, citando os governos de Jimmy Carter, nos EUA, de Tony Blair, na Inglaterra, e de Felipe González, na Espanha. A defesa da política adotada pelo BC a integrantes da bancada do PT ocorreu horas antes de a Fitch Ratings anunciar que reconhece o Brasil como porto seguro para investidores, confirmando a elevação do País ao grau de investimento. O chamado ¿investment grade¿ foi dado primeiramente pela Standard&Poor¿s e pela canadense DBRS.

Os parlamentares - que estão visitando vários ministros - foram buscar no Banco Central ¿informações e argumentos¿ para melhor se comunicar com suas bases, que cobram explicações sobre a volta da alta do juro. Meirelles explicou aos parlamentares as ações do BC e disse que o País enfrenta ¿uma encruzilhada¿: ou aumenta os juros ou vê a inflação voltar. Foi nesse momento da conversa que o presidente do BC deu uma estocada no PT, que sempre criticou a alta dos juros como estratégia de combate à inflação.

¿Historicamente, são os governos de esquerda que mais querem segurar a inflação¿, disse Meirelles, segundo um dos participantes do encontro. Meirelles foi questionado por petistas que queriam saber se a intenção da equipe econômica era mexer no câmbio. Respondeu que não. O presidente do BC defendeu o câmbio flutuante sob o argumento de que ¿o mercado se ajusta¿. Mais: garantiu que está fazendo, desde 2003, o que precisa ser feito, apesar da resistência do governo e do PT. ¿A reunião foi boa para ele e excelente para o PT. Ele conseguiu quebrar resistências no partido, que, a partir de agora está preparado para defender a política econômica do governo¿, disse o deputado Geraldo Magella (PT-DF).