Título: Índios mantêm manifestações em três Estados
Autor: Francisco, Nelson; Fadel, Evandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2008, Nacional, p. A13

Funasa de Cuiabá e Funai de Dourados estão ocupadas e em Carmésia pataxós bloqueiam caminhões

Um grupo de índios de seis etnias de Mato Grosso mantém ocupada, pelo quarto dia, a sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Cuiabá, apesar de a fundação ter garantido que será liberado, hoje, o repasse de R$ 800 mil reivindicado pelos manifestantes. Em Dourados (MS), a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) continua fechada desde anteontem. Os 27 caciques que ocuparam o prédio querem a demissão da administradora regional, Margarida Nicoletti, e sua substituição por um indígena.

Em Carmésia (MG), os 150 pataxós que fecharam anteontem a rodovia MG-232 decidiram liberar ontem à tarde a passagem de veículos, mas mantiveram o bloqueio de carretas e caminhões que servem à mineradora MMX.

Apenas em Curitiba os índios encerraram o protesto iniciado anteontem, quando ocuparam a Funasa. Eles liberaram as portas do edifício às 16h de ontem, depois de receberem da presidência do órgão, em Brasília, a promessa de que serão liberados os R$ 824 mil referentes às duas últimas parcelas destinadas à saúde. O dinheiro, que é administrado pela organização não-governamental Associação de Defesa do Meio Ambiente Reimer, estava bloqueado em razão de análises que eram realizadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) nos convênios de todo o País.

De acordo com o cacique Neoli Kafy-Ryugue Olíbio, da terra indígena Boa Vista, de Laranjeiras do Sul, apenas dois índios permanecem em Curitiba para acompanhar a publicação da ordem de liberação dos recursos no Diário Oficial da União. Nas negociações com a Funasa, os índios abriram mão do pedido para que fossem entregues imediatamente carros para o transporte de crianças e doentes nas 50 terras indígenas do Paraná. O assunto voltará a ser discutido segunda-feira.

Em Cuiabá, o protesto é contra a política de municipalização de assistência médica nas aldeias. Os indígenas cobravam o repasse de R$ 800 mil para a ONG Operação Amazônia Nativa, conveniada com a Funasa para prestar assistência aos índios. O valor estava retido pela CGU por falta de prestação de contas.

Enquanto esperam pelo desfecho do caso em Carmésia, os índios decidiram levar para dentro da aldeia as duas carretas com materiais da MMX - que está implantando um pátio de estocagem de dutos na cidade mineira -, a caminhonete de um engenheiro e uma ambulância (veículos que haviam sido retidos na estrada). Os 150 índios alegam que a rodovia passa dentro da reserva e fazem exigências para liberar a passagem de veículos pesados a serviço da empresa.