Título: Dinheiro para reserva legal
Autor: Salvador, Fabíola; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2008, Vida&, p. A24
Governo financia recuperação florestal em fazendas
Depois de fazer exigências ambientais severas para conceder crédito aos municípios do bioma amazônico, o governo decidiu subsidiar o reflorestamento de áreas desmatadas nos Estados do Norte e Centro-Oeste. Incluída na medida provisória (MP) de refinanciamento das dívidas agrícolas, a medida prevê uma linha de financiamento com taxa de juros subsidiadas para recomposição da chamada reserva legal das fazendas das duas regiões, situadas nos biomas da Amazônia e do Cerrado. A reserva legal é a área que os proprietários rurais são obrigados a manter com cobertura florestal sem exploração agropecuária.
É a primeira vez que o governo inclui num pacote agrícola uma medida voltada para o meio ambiente. Ela ¿compensa¿ a polêmica decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), que há três meses aprovou uma resolução proibindo os bancos oficiais e privados de conceder financiamento agrícola aos proprietários rurais do bioma da Amazônia que não estejam cumprindo a reserva legal. Devido à restrição do CMN, muitos produtores da região terão dificuldades, nos próximos anos, para financiar a safra enquanto não atenderam as normas ambientais.
Os recursos do novo financiamento serão oferecidos com taxa de juro de 4% ao ano (bem abaixo do mercado) e prazo de pagamento de até 20 anos.
As regras do financiamento ¿verde¿ devem constar em resolução a ser publicada nos próximos dias pelo Ministério da Integração Nacional.
¿São medidas compensatórias do ponto de vista ambiental previstas no Plano Amazônia Sustentável¿, disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. A avaliação do governo é que a linha de crédito vai estimular o produtor a regularizar a sua situação e, com isso, voltar a obter o crédito. Os empréstimos serão oferecidos por Banco do Brasil (BB) e da Amazônia (Basa), que administram, respectivamente, os fundos constitucionais do Norte (FNO) e do Centro-Oeste (FCO).
Na avaliação do gestor de instrumentos financeiros do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Manoel Serrão, a medida só terá resultados práticos se houver efetiva cobrança e fiscalização da reserva legal.