Título: Próximo encontro debaterá crise mundial de alimentos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2008, Nacional, p. A6

Nova presidente da Unesul, a chilena Michele Bachelet anunciou que convocará reunião de chefes de Estado para aprovar medidas sobre o tema

Uma das próximas reuniões da União Sul-Americana de Nações (Unasul) tratará especificamente da crise alimentar mundial. A nova presidente da entidade, a presidente do Chile, Michele Bachelet, garantiu que irá chamar um encontro de chefes de Estado nos próximos 90 dias para que o grupo aprove medidas sobre o tema. Mais especificamente, uma posição conjunta dos países sul-americanos sobre o enfrentamento da alta dos preços e a relação com países de fora do bloco regional.

Em meio às últimas informações relatadas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), de que os preços dos alimentos não serão reduzidos significativamente nos próximos dez anos, a escassez foi uma das temáticas centrais do encontro de ontem. ¿Uma preocupação que temos é que todos os avanços obtidos contra a pobreza no nosso continente podem sofrer retrocessos se não enfrentarmos unidos o alto preço dos alimentos e das fontes de energia¿, disse Bachelet.

De acordo com a presidente chilena, são problemas internos de comércio na América do Sul que criam os maiores entraves ao acesso aos alimentos na região. ¿Não temos escassez de comida. No conjunto, temos uma cesta de alimentos muito positiva. Mas os problemas do comércio local fazem com que os alimentos representem apenas 17% do comércio intra-regional¿, afirmou. ¿Precisamos de uma voz comum e uma resposta comum a esse problema.¿

Em seu discurso na abertura do encontro que oficializou a criação da Unasul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também voltou a tocar no tema, ressaltando a importância de uma resposta unida da América do Sul frente à crise alimentar. ¿Quando a escassez de alimentos ameaça a paz social em muitas partes do mundo, é em nossa região que muitos vêm buscar respostas. Temos consciência das nossas responsabilidades globais, mas não abrimos mão de exercê-las de forma soberana¿, declarou Lula.

O presidente voltou a reclamar do que considera interesses protecionistas que tentam interferir na região. ¿Não nos deixamos iludir tampouco pelos argumentos daqueles que, por interesses protecionistas ou motivações geopolíticas, se sentem incomodados com o crescimento de nossa indústria e agricultura, com a realização de nosso potencial energético¿, afirmou. ¿Uma América do Sul unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundo. Não em benefício de um ou de outro de nossos países, mas em benefício de todos.¿ Na próxima semana, Lula irá ao encontro de cúpula da FAO, em que voltará ao tema.

Em nenhum momento do encontro, no entanto, foi citado o possível papel da produção de etanol na questão da escassez e alta do preço dos alimentos. O tema, caro ao anfitrião, foi relevado pelos demais participantes, apesar do presidente venezuelano, Hugo Chávez, já ter feito críticas explícitas à troca de produção de alimentos por combustíveis, o que considerou danoso para a economia .