Título: Crítica a etanol é bobagem, diz Garcia
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2008, Economia, p. B8

Assessor de Lula diz que governo não se preocupa com declarações de ambientalistas e mantém planos na área

O assessor de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, classificou de ¿bobagens¿ as declarações de representantes de entidades do meio ambiente contra os biocombustíveis e disse que o governo não se sente pressionado. ¿Vamos continuar na nossa política. Estamos obtendo cada vez mais adesões a essa política¿, disse. ¿O governo não é ofendido quando alguns ambientalistas dizem bobagens.¿

Após acompanhar encontros e audiências de Lula, ontem, durante a 5ª Cúpula América Latina, Caribe e União Européia, Marco Aurélio endossou a crítica do presidente a empresas petroleiras internacionais, que estariam em campanha contra o etanol. ¿O biodiesel é um fator altamente positivo na preservação ambiental¿, ressaltou. ¿Há uma campanha das petroleiras a esse respeito, não estamos dizendo que há uma conjunção. O que estamos dizendo é um segredo que só as torcidas do Flamengo e do Corinthians sabem.¿

Ele disse que as empresas petroleiras não estão interessadas em combinar biocombustível com derivados de petróleo. ¿A única empresa petroleira que está interessada em combinar isso é a Petrobrás¿, disse. Marco Aurélio reafirmou a pretensão do governo de fazer uma ¿ofensiva¿ publicitária internacional para desqualificar os argumentos dos ambientalistas contra a produção de etanol, que acarretaria um aumento da taxa de desmatamento.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem o encontro de cúpula para tentar adesões de chefes de Estado aos biocombustíveis. Em encontros privados com líderes europeus e latino-americanos e em declarações públicas, ele argumentou que as críticas ao etanol não têm rigor científico.

O esforço do governo brasileiro em defesa do etanol ocorre paralelamente ao recrudescimento das ações de entidades como o Greenpeace, que estendeu faixas no sítio arqueológico de Machu Pichu, a 1.100 quilômetros de Lima, para protestar contra os biocombustíveis.

O governo marcou para o fim do ano uma conferência sobre biocombustíveis. ¿Queremos que venham não só os que estão de acordo, mas os críticos¿, disse o assessor. ¿Que essa questão seja definitivamente esclarecida do ponto de vista científico.¿

SEM AVANÇO

A cúpula que reuniu 45 chefes de Estado latino-americanos, caribenhos e europeus terminou sem que os países aprofundassem a discussão sobre os biocombustíveis. Ao contrário do que pretendia a União Européia, não houve avanço no debate de exigências ambientais e sociais para exportação de etanol.

A Declaração de Lima, documento de duas páginas assinado pelos participantes da cúpula, citou apenas a intenção dos países em desenvolver cooperações no setor. ¿A declaração propõe intercâmbio de experiências em biocombustíveis e promoção de iniciativas orientadas a aumentar o acesso à energia com menos emissão de gás carbônico.¿

O presidente da União Européia (UE), José Manoel Durão Barroso, e o presidente do Peru, Alan García, que abriram o encontro, não fizeram referências ao assunto. Durão Barroso apenas propôs ¿ações conjuntas¿ para enfrentar o aumento dos preços dos alimentos, atribuído por setores da comunidade internacional ao incentivo ao plantio de biocombustíveis.

¿A União Européia considera fundamental uma reação urgente de ajuda humanitária¿, afirmou. ¿A inflação dos preços causa um desequilíbrio entre oferta e demanda.¿

Alan García afirmou que os países precisam ter ¿responsabilidade¿ para resolver a crise dos alimentos. A UE quer estabelecer exigências e metas sociais e ambientais para os produtores de biocombustíveis. O presidente Lula não fez discurso aberto durante o encontro.