Título: UE deve eliminar subsídios ao etanol
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2008, Economia, p. B9

Bloco ainda isenta o biocombustível de provocar a alta dos alimentos

A Comissão Européia (CE), órgão executivo da União Européia (UE), aprovou ontem o fim dos subsídios ao etanol, uma decisão que ainda precisa ser endossada pelos 27 países do bloco. Em mensagem dirigida ao Brasil e aos Estados Unidos, a CE deixou claro que vai insistir em critérios duros para a entrada, no bloco, de biocombustíveis que não respeitem o ambiente e os aspectos sociais. A UE ainda quer evitar importar etanol que contribua para reduzir a oferta de alimentos.

Em uma estratégia divulgada ontem para lidar com a alta dos preços dos alimentos, Bruxelas voltou a defender o etanol e o isentou de estar causando inflação. "No setor de transporte, hoje a única alternativa ao petróleo é o biocombustível."

Segundo a UE, só 1% do cereal produzido no bloco é usado na fabricação do etanol, o que não explicaria as altas. Os europeus, porém, alertam que os incentivos para o etanol de milho nos Estados Unidos contribuem para a alta dos alimentos.

Já a meta de 10% dos carros movidos a etanol até 2020 teria um impacto também na Europa. Os preços dos cereais aumentariam entre 3% e 6% e outros produtos poderiam aumentar e até 15%.

Por isso, a UE pede que a expansão do etanol tanto na Europa, como no resto do mundo, ocorra com o uso "responsável de terras". Segundo os europeus, a previsão é que até 2016 43% da produção de milho nos Estados Unidos vá para os combustíveis. Isso afetaria a oferta de alimentos.

Não por acaso, a UE quer ter certeza de que critérios de sustentabilidade ambiental e social serão seguidos para qualquer empresa que pretenda exportar etanol para o mercado europeu.

Ontem, a comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, ainda conseguiu que sua proposta para acabar com a ajuda de 45 por hectare plantado fosse aceita pelo braço executivo do bloco. Agora, precisará ter o voto dos 27 países membros da UE para que a decisão seja implementada.

No total, o bloco gastou pelo menos 90 milhões apenas nesse programa. Na avaliação da comissária, o etanol é parte da solução energética da Europa.

O dinheiro liberado agora será utilizado para financiar pesquisas no desenvolvimento da segunda geração de biocombustíveis, que teriam um impacto ambiental menor.

Para a UE, um motivo estratégico para o uso do etanol é acabar com a dependência na importação do petróleo. "Biocombustíveis são uma política de seguro contra nossos futuros problemas de abastecimento", afirmou a comissária.

Segundo ela, 98% do petróleo na UE é importado. "Teremos um problema sério quando as torneiras fecharem um dia e o biocombustível é parte da resposta para isso. Não haverá volta atrás", garantiu, em relação ao uso do biocombustível na Europa.

Há cerca de dois anos, a UE anunciou o etanol como solução para vários de seus problemas. Nos últimos meses o debate se transformou em questionamento.