Título: Não peguem os governadores para Cristo
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2008, Nacional, p. A5

Ivo Cassol: governador de Rondônia - Cassol critica Minc e afirma que ele deve desculpas ao governador de Mato Grosso, Blairo Maggi

O ministro indicado para o Meio Ambiente, Carlos Minc, é alvo de críticas de dois governadores de Estados com problemas sérios de desmatamento. Depois de bater de frente com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), dizendo que, se deixarem, ele planta soja até nos Andes, Minc agora enfrenta a resistência aberta do governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido).

Em entrevista ao Estado, ele afirma que o novo ministro ¿começou mal¿ ao criticar Maggi. ¿Com o peito e com a barriga, é muito fácil ficar falando em preservação ambiental. Como se diz, ele foi um bola murcha, começou pisando na bola¿, disse. ¿Não vou aceitar que as pessoas que não têm projeto para a Amazônia, como aconteceu nos últimos cinco anos, queiram pegar os governadores como Cristo.¿

O que o sr. achou das declarações de Minc sobre o governador de Mato Grosso?

Começou mal. Eu não posso julgá-lo porque a escolha foi do presidente Lula. O mínimo que se espera é que as pessoas que sejam nomeadas tenham conhecimento da área que vão cuidar. Eu espero que o novo ministro não volte a cometer os erros que cometeu na primeira entrevista que deu - Minc disse, em Paris, que se deixar, ele (Maggi) planta soja até nos Andes. Além disso, ele disse que não conhece o Brasil. Ele não conhece o Brasil e fica fazendo comentários equivocados. Isso prova que o presidente, de repente, não está acertando em sua indicação. O presidente poderia ter indicado o Jorge Viana, que conhece a Amazônia, o Brasil inteiro. Apesar dos comentários equivocados, eu desejo que o secretário tenha sucesso, mas para isso ele tem que fazer as coisas certas. Administrar, ser um ministro, não se faz com o bico, se faz com o trabalho. Com o peito e com a barriga, é muito fácil ficar falando em preservação ambiental. Eu acho que ele começou tudo errado, como se diz, ele foi um bola murcha, começou pisando na bola.

Qual conselho o sr. dá para Minc?

Ele tem que procurar o Blairo Maggi e pedir desculpas. Nós temos que aproveitar com inteligência e com criatividade as áreas que já foram desmatadas. Nós não queremos desmatar mais. O novo ministro precisa verificar o que foi feito de bom pela ex-ministra Marina Silva e conversar com os governadores. Nós não queremos é ser cobaias do governo federal nem do Meio Ambiente. Queremos um bom relacionamento. Eu telefonei para o Blairo. Os governadores dos Estados da Amazônia querem ser parceiros do governo federal.

O sr. vai procurar Minc?

Eu não. Ele é que está assumindo e que nos procure. Eu me coloco à disposição.

E se Minc não procurá-lo?

Se me tratarem com respeito, eu trato com respeito. Agora, eu não vou aceitar que as pessoas que não têm projeto para a Amazônia, como aconteceu nos últimos cinco anos, queiram pegar os governadores como Cristo. Comigo, não.

O sr. tinha bom relacionamento com Marina Silva?

Nos cinco anos em que ela foi ministra, eu me encontrei com ela em abril de 2003 e há duas semanas. Nunca mais nós fomos procurados pelo Ministério do Meio Ambiente para fazer uma parceria. Só recentemente ela entendeu que fazer política ambiental não é só repreender. Nesses dois encontros, eu disse para ela que se a Amazônia é o pulmão do mundo, o povo tem que começar a pagar por isso. É preciso pagar para quem preserva. Os donos de fábricas, de companhias aéreas têm que pagar pela área preservada. O segundo passo é criar projetos sustentáveis para a Amazônia. Até agora, o Meio Ambiente não criou nenhum projeto nesse sentido. Além disso, o governo federal, o Exército, precisa estar presente nas áreas de fronteira para coibir as invasões e as derrubadas. Com o peito e com a barriga, é muito fácil ficar falando em preservação ambiental. Foi isso que foi feito até agora pelo Meio Ambiente.

Quem é: Ivo Cassol

Foi reeleito governador de Rondônia em 2006.

Nasceu em Concórdia (SC) em 1959 e foi para Rondônia nos anos 70. Possui

empreendimentos nos setores de pré-fabricados, agropecuária e hidreletricidade.