Título: MPF denuncia cooperativa de leite
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2008, Vida&, p. A19

Em outra operação, 5 marcas do produto em pó estão sendo retiradas do mercado por adição de soro

Hoje será apresentada a primeira denúncia junto à Justiça Federal com base no inquérito realizado pela Polícia Federal (PF) na Operação Ouro Branco. O procurador da República em Uberaba, Carlos Henrique Dumont Silva, vai denunciar a Cooperativa Agropecuária do Vale do Rio Grande (Copervale), sediada no município mineiro.

A ação, iniciada em meados do ano passado pela PF, Procuradoria da República e Ministério Público Estadual de Minas, investigou esquemas de mistura de substâncias químicas não permitidas ao leite longa vida (para preservar artificialmente o produto e elevar criminosamente os lucros).

Na primeira investida da Ouro Branco, em outubro do ano passado, foram indiciadas a Copervale e a Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), do município de Passos. As empresas eram suspeitas de adicionar soda cáustica (hidróxido de sódio) e água oxigenada (peróxido de hidrogênio) ao leite, produtos alcalinos que disfarçam a ação de bactérias. Mas laudos divulgados em dezembro concluíram que o leite, na verdade, não continha traços de soda ou água oxigenada - apresentava, porém, água, açúcar, sal, citrato, soro e outros compostos que, pela lei, não poderiam ser adicionados ao leite.

No caso da Casmil, o Ministério Público Federal em Minas solicitou mais informações à PF, antes de decidir se vai ou não apresentar denúncia.

As duas cooperativas foram procuradas pelo Estado, mas só pretendem se pronunciar sobre o caso depois de a Justiça acolher a denúncia do MPF.

QUADRILHA

A PF na Paraíba prendeu na semana passada 7 pessoas em uma operação para desarticular um possível esquema de adulteração de leite em pó, falsificação de notas fiscais, sonegação de impostos e corrupção de funcionários públicos. A ação foi batizada de Operação Lactose.

O principal alvo da PF foi a empresa Big Leite Indústria e Comércio de Alimentos, de propriedade de Carlos Batista Culau. Segundo o inquérito, a Big Leite comprava o leite em pó em grandes quantidades para reempacotá-lo e revendê-lo. Nesse processo, substituia 50% do leite por soro, produto com pouca proteína.

A quantidade máxima permitida pelo Ministério da Agricultura é 30 mg/l. A PF afirma que, nas análises do produto vendido pela empresa, os índices eram de até 592,5 mg/l.

Para encobrir a saída maior do que a entrada de produtos, a Big Leite utilizaria notas fiscais frias das empresas Avesul e Sanita (Santa Catarina), Milky (Bahia) e Via Láctea (Ceará), todas de propriedade dos suspeitos.

Para burlar a fiscalização, teria, ainda, corrompido funcionários do laboratório oficial do Ministério da Agricultura em Pernambuco.

¿O esquema existia, no mínimo, desde 2005¿, afirma a chefe da delegacia de repressão aos crimes fazendários da PF na Paraíba, Luciana Paiva Barbosa. ¿Havia até prefeituras que compravam o leite para a merenda.¿

Questionada sobre os possíveis riscos para a saúde, a delegada afirmou que o produto não causaria um mal direto. ¿Mas o seu consumo prolongado pode agravar quadros de desnutrição, pois o soro tem menos nutrientes do que o leite.¿

A juíza Cristina Maria Garcez, da 3ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba, determinou que as marcas Só Beber, Naturesse, Bom Du Leite, Cilpe e Big Leite, empacotadas pela empresa, sejam retiradas do mercado.

Os advogados da Big Leite foram procurados pela reportagem, mas não quiseram comentar o caso.