Título: Deputado acertou estratégia com acusado
Autor: Macedo, Fausto; Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2008, Nacional, p. A5

Em 27 de abril, deputado disse ao advogado Ricardo Tosto, solto um dia antes, que iria desqualificar operação

O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP), caiu no grampo da Polícia Federal discutindo abertamente com um dos alvos da Operação Santa Tereza ¿formas de desqualificar a investigação¿ sobre suposto esquema de desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Foi no dia 27 de abril, domingo. Paulinho diz que ¿vai usar de suas influências para que a Câmara dos Deputados intime o superintendente da Polícia Federal e o ministro da Justiça para darem explicações¿.

A informação sobre os movimentos de Paulinho consta de documento de oito páginas que a Procuradoria da República entregou à Justiça Federal, em 2 de maio. Nesse ofício, a procuradoria reúne argumentos para requerer a decretação da prisão preventiva de toda a organização. Sustenta que acusados estão usando de ¿seu poder político¿ para desclassificar a Santa Tereza.

¿A prova cabal dessa afirmação é a conversa interceptada entre Paulinho (deputado Paulo Pereira da Silva) e Ricardo Tosto¿, assinala a procuradoria, referindo-se ao conselheiro afastado do BNDES, o interlocutor do parlamentar.

O contato de Paulinho, que a PF gravou, ocorreu quatro dias depois que a missão federal saiu às ruas e prendeu 10 acusados - inclusive Tosto, que deixou a cadeia um dia antes do telefonema com Paulinho, e o lobista João Pedro de Moura, amigo e ex-assessor do deputado.

Os telefones de Paulinho não estavam no grampo, mas os de seu interlocutor estavam. Por isso a conversa de Paulinho, naquele domingo, caiu na malha da Inteligência da PF.

Para reforçar seu pedido, a procuradoria federal anotou: ¿Não há como afastar o abalo à ordem econômica. Não é possível permitir a liberdade de quem retirou e desviou por cima R$ 2 milhões dos cofres públicos para a satisfação de suas necessidades pessoais em detrimento de muitos. O abalo à credibilidade da Justiça é evidente.¿

O juiz federal Marcio Catapani ordenou a prisão de 4 dos 13 investigados, entre eles João Pedro, o aliado de Paulinho.

Quando a conversa do deputado foi captada, o delegado Jaber Makul Hanna Saadi ocupava o cargo de superintendente da PF em São Paulo, onde a Santa Tereza nasceu. No dia em que a operação foi desencadeada, Saadi repeliu com veemência insinuações sobre motivação política da polícia no caso. ¿A Polícia Federal jamais se prestaria a isso¿, declarou o delegado que, semana passada, deixou o cargo. A mudança na cúpula federal no Estado já estava programada mais de dois meses antes da operação.

No dia seguinte à conversa grampeada, Paulinho telefonou para o ministro Tarso Genro (Justiça). O ministro afirmou que a PF não estava investigando o pedetista.

O Estado tentou ouvir o advogado Antonio Rosella, que defende Paulinho, mas ele não se manifestou.

SURREALISTA

José Roberto Batochio, criminalista que defende Tosto, rechaçou a possibilidade de seu cliente agir com intenção de neutralizar a Santa Tereza. ¿Esse argumento de desqualificar a investigação é uma coisa surrealista. O fato é um só. A investigação revela a verdade e aí qualquer contrariedade a essa verdade óbvia cai no vazio. Aqueles que não admitem conviver com o contraditório não aceitam opinião diversa da sua. Vêem em qualquer gesto de possível defesa uma atitude inadmissível. São espíritos autoritários que não admitem a versão do outro lado.¿

Batochio destacou que Tosto se afastou espontaneamente do cargo de conselheiro do BNDES ¿exatamente para evitar especulações de que poderia influir na investigação¿. O advogado lembrou que Tosto esteve hospitalizado recentemente ¿com graves problemas de saúde, portanto não teria sequer condições físicas de interferir na investigação¿.