Título: Disparada dos alimentos pode levar inflação a 5%
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2008, Economia, p. B7

Previsão do coordenador do IPC-Fipe para este ano leva em conta um aumento de 11% na alimentação; no mês de abril, inflação foi de 0,54%

Puxada pela alta dos preços dos alimentos, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) poderá encerrar este ano em 5%. Se a previsão se confirmar, será a maior marca desde 2004, quando o índice subiu 6,56%. Em 2007, a inflação atingiu 4,38% e em 12 meses até abril acumula alta de 4,51%. Neste ano até abril, o IPC aumentou 1,57%.

¿Facilmente o IPC chegará a 5% em 2008, se o grupo alimentação subir 11% este ano¿, disse o coordenador do índice, Márcio Nakane. Ele admitiu essa hipótese ontem, ao anunciar o resultado da inflação de abril, de 0,54%. O índice de abril superou as expectativas, segundo levantamento da Agência Estado, e ficou 0,23 ponto porcentual acima do IPC de março.

Por causa desse resultado e de novas pressões de preços detectadas nos alimentos e nos preços de produtos industriais no atacado, Nakane reviu a previsão do IPC para o ano de 4,1% para 4,5% e considerou a possibilidade de que o índice chegue a 5% em 2008.

Na estimativa de 4,5%, o economista considerou o aumento de 9% dos preços da alimentação. Mas ele próprio disse que a projeção de alta de 9% para os alimentos ¿nesta altura do ano é um cenário muito otimista¿. Em 12 meses até abril, os preços da alimentação subiram 12,32%, quase o triplo da inflação no período. Em 2007, a comida aumentou 12,37%.

Foi a alimentação o principal fator de alta do IPC de abril. Sem a pressão dos alimentos e o reajuste dos remédios, a inflação de 0,54% do mês passado teria ficado em 0,30%.O grupo alimentação subiu em abril 0,84%, puxado pelos preços dos alimentos industrializados e semi-elaborados. ¿A alta dos alimentos in natura está perdendo força¿, observou Nakane.

Em contrapartida, novos vilões entraram em cena, como o arroz. O preço do grão subiu 0,60% em abril no índice quadrissemanal e registra elevação 7,4% na ponta, o que sinaliza novas elevações nas próximas semanas. No caso das carnes bovinas, elas subiram 0,42% no IPC quadrissemanal e tiveram alta de 2,62% na ponta.

O leite longa vida, com aumento de 3,48% em abril, foi outro produto que começou a pressionar a inflação, ao lado dos derivados de trigo. Depois da energia elétrica, o pãozinho francês foi o campeão de alta no mês passado. O preço do produto subiu 8,87% em abril, a maior variação desde a primeira quadrissemana de dezembro de 2002, quando o pãozinho tinha aumentado 9,37%.

¿Os preços dos alimentos básicos vão continuar pressionados nos próximos meses¿, disse Nakane. Além da escassez de oferta desses produtos no mercado internacional, ele atribui uma parte da pressão à elevação de custos do setor agrícola, como fertilizantes e defensivos, por exemplo.

O economista destacou também que pressões de custos nos produtos industrializados, que já foram detectadas no atacado nas cadeias do plástico e do aço, vão começar a aparecer no varejo. ¿O segundo semestre deste ano será agitado em pressões de custos.¿

Outro fator de pressão apontado pelo economista é o preço dos produtos monitorados, isto é, aqueles que dependem da autorização do governo para serem reajustados. Esse grupo, que vinha com variação abaixo do IPC até meados de fevereiro, hoje está muito próximo do índice cheio de inflação. Em relação a gasolina e ao diesel, Nakane reforça a tese de que o impacto do reajuste da gasolina foi neutralizado pela redução do imposto. O peso direto do diesel é pequeno.